Título da redação:

Bullying: uma proporção definida como a de Proust

Tema de redação: Os fatores motivadores da violência escolar

Redação enviada em 03/06/2017

Em o Senhor das Moscas, obra clássica de Willian Golding, escritor inglês, um grupo de garotos, em idade escolar, é abandonado numa ilha paradisíaca inabitada sem a presença de nenhum adulto, após um naufrágio. Com a sucessão de fatos, os meninos entram em estado completo de selvageria, iniciado no início da narrativa com a prática explícita de bullying: um garoto, por usar óculos e estar acima do peso, recebe ofensas e é esnobado constantemente. Fora das páginas, pode-se assemelhar ao romance a prática da violência dirigida ao outro no âmbito escolar, seja fisicamente ou psicologicamente, seja na vida real ou por trás de telas brilhantes. Dessa forma, percebe-se que a violência física está entre as principais formas de agressão usadas pelos agressores para reafirmar um poder que julgam possuir. Segundo Benedetto Croce, historiador e filósofo italiano, “ a violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora”. Isso mostra que a intimidação através de ameaças físicas só causa retraimento social às vítimas, o que acarreta, posteriormente, em problemas psicossomáticos. Ainda assim, vale destacar os danos sofridos pela estrutura familiar, primacialmente quando a escola nega a existência de tal violência em suas dependências, causando impunidade ao violentador e permitindo a continuidade do crime; este, aplaudido por expectadores passivos, pode levar ao suicídio, último estágio dessa selvageria real. Nesse aspecto, pode-se inferir que, com o avanço das tecnologias, o amedrontamento, antes apenas realizado por contato físico, ganhou uma nova face: “cyberbullying”; este, causa danos morais ao agredido, o que é tão doloroso quanto a agressão física. Conforme Proust, em sua lei ponderal das proporções definidas, uma substância formada é sempre a mesma, independentemente de seu processo de formação. Isso, analogamente, evidencia que, embora o crime seja praticado virtualmente, são necessárias medidas de combate. O uso desses veículos informacionais de compartilhamento fácil para denegrir a imagem do perseguido, através de postagens anônimas, comentários ofensivos e até mesmo publicação em redes sociais de humilhações e práticas de violência, pode causar forte impacto social, uma vez que, nessa modernidade líquida, o meio virtual se tornou, apenas, mera extensão da realidade. Sendo assim, urge necessidade de “atrito” para barrar esse corpo – bullying – que tende a avançar em movimento retilíneo uniforme, de acordo com o princípio da inércia de Isaac Newton. Frente ao exposto, o bullying e sua versão digital devem ser combatidos, o que só será possível com ação conjunta, paulatinamente, de agentes sociais. É necessário, portanto, que o Ministério da Educação, em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação, produza e distribua, em escolas públicas e privadas, revistas e histórias em quadrinhos que mostrem a importância do respeito à diversidade, bem como o perigo proporcionado pela rede mundial de computadores. Ademais, a escola, com apoio da família e das prefeituras municipais, que, por sua vez, receberiam subsídios educacionais do Governo Federal, deve promover palestras e oficinas didáticas para pais e filhos, com o intuito de alertar e orientar os pais quanto a mudanças comportamentais dos jovens; a mídia, em conjunto às Organizações Não Governamentais, deve ensinar como proceder diante da violência escolar e uso das novas tecnologias, seja com a vítima, o agressor ou os expectadores passivos, através de propagandas e da teledramaturgia. Só assim, o número de casos como o de “Porquinho” – personagem do romance supracitado que teve seu nome substituído por um apelido pejorativo e foi assassinado – diminuiria e a sociedade poderia voltar ao estado de civilização.