O tamanho da crise estrutural do sistema público de saúde é expresso não pelas grandes demandas que não são atendidas por restrições orçamentárias, mas sim pela falta de medidas socioeducativas simples que podem combater eficientemente problemas menos complexos, como o dos empecilhos para a doação de sangue no Brasil. Nesse cenário, põem-se em perspectiva um conjunto de alternativas que podem estimular o cidadão a doar sangue. Em primeiro lugar, é necessário compreender o imperativo de ordem informacional que rodeia essa problemática: não é com propagandas de dez segundos que passam fora dos horários de pico que o governo pode melhorar a situação, mediante o aumento da porcentagem de doadores, que não chega a 2% de acordo com a revista "mundo ciência". Mas sim por meio de uma política estratégica no âmbito da promoção da informação, eliminação de medos e representação das vantagens de se doar sangue no que tange à exaltação da cidadania. Todavia, seria demagogo considerar a doação de sangue como fruto de uma consciência elevada acerca do coletivo e da função social da doação. Por outro lado, é um fato quantitativo que os Estados Unidos possuem mais sucesso que o Brasil em termos da doação de sangue, vide estatísticas liberadas pelo governo estadunidense. A diferença entre a doação aqui e lá é que o sangue é considerado uma mercadoria e é vendido nos hospitais americanos, atraindo muitos doadores. É claro que a ideia de vender o próprio sangue rompe as barreiras da tradição católica brasileira, que prioriza a doação e a oferenda ao invés do lucro. Porém, o fracasso da política de doação de sangue no Brasil exige medidas de dinamização, as quais devem ser alvo de debates no Congresso o quanto antes. Portanto, medidas são necessárias para atenuar a problemática. Em primeiro lugar, é de fundamental importância que o governo desvie uma maior quantidade de recursos para produção de propagandas socioeducativas estratégicas para o interesse coletivo. Isso pode acontecer eliminando parte das propagandas de bancos públicos e outras empresas estatais, de modo a dar lugar e autossuficiência orçamentária para a ampliação publicitária dessas outras campanhas informativas, pautadas na eliminação de medos e exaltação da cidadania no ato de doar sangue. Também é necessário que haja um diálogo da sociedade civil com o Congresso Nacional a fim de estabelecer e regularizar a doação de sangue com uma retribuição financeira ao doador. Apesar de polêmica, a medida atenuaria a problemática da falta de indivíduos dispostos a doarem sangue. Assim, será possível combater os empecilhos para a doação de sangue de forma satisfatória.