Título da redação:

A ratificação de Buarque

Tema de redação: Os empecilhos da doação de sangue no Brasil

Redação enviada em 13/09/2017

O historiador Sérgio Buarque de Holanda , em sua obra “Raízes do Brasil”, retratou o comportamento das relações sociais que se caracterizavam pela predominância da afetividade. Contemporaneamente, segundo a Organização Mundial da Saúde, menos de dois porcento da população doa sangue, o que demonstra aparente mudança do paradigma brasileiro. No entanto, o número demasiadamente baixo do dado não esta associado à falta de empatia do povo, mas à negligência informacional e medidas de requisito para oferta sanguínea ainda preconceituosa aos homossexuais. Em uma primeira análise, sob a ótica sociológica, o escasso número de doadores é fomentado pela precária conscientização dos brasileiros, haja vista a baixa proximidade desses com questões patológicas. Esse fato encontra origem nas poucas políticas públicas de incentivo à doação- normalmente feito em curtos e específicos períodos no ano- que deixam de transmitir a imprescindibilidade dos gestos solidários para proporcionar a sobrevivência de pessoas doentes. Nesse sentido, a baixa divulgação de conhecimento e informação promove a criação de realidade – pessoas precisarem constantemente de doações sanguíneas- longínqua, que corrobora o aparente descaso da população sobre essa pauta. Esse paradigma social pode ser exemplificado pelas realizações de políticas públicas nos Estados Unidos na década de trinta, na qual houve a primeira medida política destinada aos deficientes pelo presidente Roosevelt-que era cadeirante- , o que demonstra a importância da proximidade com a problemática para dar importância e efetuar ações. Analogamente, as medidas de requisito para a doação sanguínea mais rígida aos homossexuais é mecanismo intenso de agravamento da escassez de armazenamento de sangue,uma vez que milhares de litros são desperdiçados em nome do preconceito. Esse panorama , pode ser explicado pela justificativa do Ministério da Saúde de que pessoas gays estariam mais propícias à contaminação de doenças sexualmente transmissíveis –pelo estereótipo de serem promíscuos- e, por isso, deveriam se submeter a um tempo significamente maior de restrição ao ato sexual que os heterossexuais. Dessa forma, percebe-se o intenso conservadorismo presente na área de saúde, visto que o período da janela imunológica não possui relação com a orientação sexual. Pensando nisso, a Agência Africana fez uma ação na cidade de São Paulo, como campanha internacional em defesa da comunidade LGBT,que criticava esse panorama, na qual um caminhão cheio de bolsas de sangue apresentavam o seguinte slogan: O Brasil desperdiça mais de um caminhão cheio por dia por puro preconceito. A escassa conscientização da população e a manutenção de medidas limitativas sob a égide do preconceito são ,portanto, motivos que contribuem para o baixo número de doações sanguíneas.Com o intuito de reverter esse quadro, é necessário que o Ministério da Educação juntamente com o Ministério da Comunicação promovam maior conscientização à população, por meio da massificação de propagandas em ônibus ,jornais e em horário nobre de televisão que dissertem sobre a importância das doações para a manutenção de outras vidas. Concomitantemente, o Poder Judiciário, por meio de pareceres enviado à Câmara e Senado Federal, deve buscar a reformulação das medidas requisitadas pelo Ministério da Saúde aos homossexuais, igualando as restrições , possibilitando maior igualdade jurídica e evitando a rejeição de atos solidários. Desse modo, construir-se-á estabelecer uma cultura submersa na equidade e na dignificação do homem, contrariando a falsa ideia da ausência de empatia do povo brasileiro, e a ideia de Sergio Buarque se ratificará novamente.