Título da redação:

O parco infinito

Tema de redação: Os efeitos da má gestão hídrica no setor energético brasileiro

Redação enviada em 17/08/2017

Presenciamos uma situação paradoxal, onde o país com um dos maiores patrimônios hídricos do planeta passa hoje por problemas de escassez deste mesmo elemento. Este é o resultado de uma política negligente, que mesmo ciente da estiagem pela qual o país passava, somente promoveu a redução do consumo de água quando os reservatórios estavam em níveis críticos. O resultado é um maior impacto socioeconômico, uma vez que todos foram surpreendidos pela situação, e sem planejamento prévio a conjuntura dos processos que dependiam deste item ficam impossibilitados de serem realizados. Todavia, esta falha logística também se estende ao cidadão comum, que lava calçadas com mangueiras e elimina seu esgoto bruto nos rios, e como estas práticas são cotidianas, elas catalisam esta crise. A resposta para o porquê desta negligência generalizada se encontra na formação sociológica do povo brasileiro, que ocorreu em um processo descrito por Sérgio Buarque de Holanda, em sei livro “Raízes do Brasil”. Em suas análises, ele constatou que a maioria dos povos que formaram o brasileiro tinham uma visão de curto prazo (indígenas, escravos negros e colonos portugueses),em vista que eles exploravam a terra e sempre havia mais, destarte não era preciso pensar em um longo prazo. Esta visão de que o país possui uma infinita abundância ainda foi reforçada pelos governos militares para criar um nacionalismo postiço, constituindo assim um histórico descuido com nossos recursos. Uma sequela desta lógica de infinitude das matérias primas é nossa dependência energética em relação às hidrelétricas, pois como não se cogitava a hipótese de escassez de água, não foram desenvolvidas outras matrizes energéticas. E a própria construção destas usinas causou o problema, pois o ciclo da água foi alterado, e agora o índice pluvial nas nascentes dos rios diminuiu radicalmente. No entanto, esta não é a primeira vez pela qual o Brasil enfrenta uma grave crise por ser demasiadamente dependente de um item, sendo os ciclos do café e da cana de açúcar os maiores exemplos. O cerne da solução para nossa pauta de exportação também se aplica a nosso problema energético, e ele é a diversificação, pois assim se um item entra em recessão existem outros para suprir a disparidade. Para efeito imediato, é preciso que agências responsáveis pelos recursos hídricos do Brasil, tais como a ANA, realizem uma operação de fiscalização junto à polícia federal para punir os grandes poluidores e dispendiosos do recurso, como donos de indústrias e condomínios. Outrossim, a “bancada verde” dentro do legislativo tem o dever de aprovar leis que punam os pequenos poluidores e dispendiosos, aumentando multas e tempos de reclusão, além de se articularem com a polícia federal para efetivar estas leis. A um longo prazo, o Ministério da Educação deve incluir em suas diretrizes discussões mais aprofundadas sobre ecologia e geografia, a fim de que se altere esta visão sobre o infinito potencial de nosso solo. Ademais, são necessários investimentos estatais em usinas eólicas e em tecnologias para melhor explorar o pré-sal, objetivando a diversificação de nossas fontes de energia elétrica e, consequentemente, evitar que novas crises ganhem tamanhas proporções.