De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, documento que assegura os direitos fundamentais de indivíduos menores de 18 anos, é essencial garantir que essas pessoas, por se encontrarem em estado de desenvolvimento, usufruam apropriadamente da infância. No entanto, ao considerar os levantamentos da BBC Brasil, que apontam que cerca de 57% das vítimas de violência sexual tem entre 0 a 14 anos, é indubitável que diversos fatores sociais contribuem não só para o descumprimento do estatuto como também a para a erotização infantil no país. Em primeiro plano, é notório a influência do contexto contemporâneo e das tecnologias para o agravamento da problemática. Dessa forma, a consolidação do capitalismo através da globalização e da Terceira Revolução Industrial permitiu o surgimento da indústria cultural, conceito elaborado pelos filósofos frankfurtianos Adorno e Horkheimer, a qual é responsável por manipular a sociedade e propagar ideologias. Analogamente, ao que cerne as crianças, os conteúdos midiáticos como propagandas e programas de entretenimento disseminam a ideia de adultização precoce, além de as expor a cenários inapropriados para tal faixa etária. Outrossim, a ausência de políticas de segurança eficazes e a falta de supervisão dos pais levam a superexposição da população infanto-juvenil em redes sociais, uma vez que é um ambiente perigoso devido a possibilidade do anonimato, podendo gerar crimes como pedofilia. Segundamente, a estrutura patriarcal e machista do Brasil é o principal responsável por estabelecer a erotização infantil. Nessa perspectiva, o ideal hierárquico dentro da instituição familiar enraizado desde a colonização, como é apontado por Gilberto Freyre em "Casa Grande e Senzala", apresenta a mulher como submissa e objetificada. Assim, apesar das mudanças quanto ao papel feminino na sociedade, ainda é disseminado desde a infância a ideia de coisificação da menina, em que o senso comum e a mídia a manipulam a acreditar que sua finalidade está atrelada a um homem. Como consequência, a erotização prejudica a infância haja vista que ocorre uma exposição precoce à sexualidade e também agrava os casos de pedofilia, tal como ocorreu com a participante do Masterchef Kids Valentina e também com a cantora Melody. É observável, portanto, que a erotização infantil gera graves consequências. A fim de mudar isso, é essencial que as escolas discutam acerca dos perigos das mídias através de aulas de informática que ensinem o uso apropriado da internet, assim como apresentações didáticas que orientem sobre os perigos do mundo digital, com o intuito de ensinar a criança a lidar com a superexposição. Ademais, também faz-se importante que o governo trabalhe em prol de combater a problemática através da ampliação de leis regulamentando a exposição infantil, além do aumento de medidas contra a pedofilia na internet com a finalidade de cumprir o ECA e permitir que a criança usufrua plenamente da sua infância.