Desde a publicação de “Lolita” do autor Vladimir Nabokov, em 1955, o apelido da personagem Dolores virou sinônimo de uma jovem hipersexuada, sedutora e maliciosamente ingênua. Contudo, esse arquétipo de ninfeta consolidado no imaginário popular não condiz em nada com os abusos sofridos por uma menina de 12 anos presente na obra. Nessa perspectiva, fora das páginas, percebe-se a erotização infantil como uma problemática real, acentuada pela mídia que, em grande parte, cultua a banalização e vulgarização do sexo feminino de forma que uma vítima de pedofilia é celebrada como um ícone sexual. Partindo do ponto de vista social, o Brasil enfrenta grandes dificuldades quanto à adultização precoce de crianças. Isso porque, segundo um levantamento do Banco Mundial, o país tem o maior números de casos de casamento infantil da América Latina, além de uma em cada cinco gravidas serem adolescentes. Denotando, assim, é perceptível o problema da população em abordar a sexualidade, pois os pais não se sentem à vontade, a escola trata o tema de maneira protocolar e superficial e a religião trata o assunto com tabus e mitos que afastam os jovens da informação. Nesse sentido, sem orientação e com uma mídia que valoriza a superficialidade da mulher, por meio de letras de músicas ou produtos de consumo, como maquiagem infantil, a sociedade não encara o fato das meninas se transformaram precocemente em mulheres com a seriedade necessária. Além disso, não é raro ver adultos incentivando crianças, seja com perguntas ou como forma de entretenimento, a ter compromissos que fazem parte do mundo maduro, como namoros e beijos, tratando o assunto como mera brincadeira. Entretanto, é justamente por mensagens e imagens que a erotização precoce é estimulada, sem a criança possuir condições de assimilar o assunto. Com efeito, essas situações geradas pelo acionamento de impulsos sexuais de maneira inapropriada caracterizam um fenômeno de natureza traumática. Aliás, na lógica freudiana, trauma é o acontecimento na vida de alguém que se define por sua intensidade e capacidade de reagir de forma adequada, ou seja, pode trazer prejuízos significativos ao desenvolvimento emocional. Portanto, fica claro que os adultos não devem subestimar a capacidade de compreensão das crianças. Os pais, por meio do controle do acesso à internet e televisão, devem determinar limites de quando e como os filhos podem participar de assuntos adultos. Ainda, procurar informação com psicólogos sobre como abordar sexualidade é importante para o desenvolvimento saudável da criança. Por outro lado, a escola tem como objetivo oferecer palestras, debates e aulas que aproximem os alunos, atentando aos perigos de doenças transmissíveis e gravidez precoce. Já a mídia deve revisar o conteúdo que é repassado à população todos os dias, mais precisamente às meninas, diminuindo estereótipos machistas em novelas e propagandas de maneira que não afete o crescimento das futuras mulheres.