Na tão lembrada Carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão mais famoso da nossa história contava sobre a presença de um povo que, sob os olhares europeus de soberania, precisava ser civilizado: os índios. Estamos enganados, porém, se pensamos que não herdamos esse olhar e que convivemos com esse povo de maneira diferente. Nossos colonizadores fizeram o trabalho sujo do genocídio, mas nós contribuímos para que a situação não pudesse ser revertida. Os povos indígenas, então, uma vez despidos de voz e terra, continuam, dia após dia, sendo dizimados. Em primeiro lugar, é necessário encarar o fato de que nós, os brasileiros do século XXI, ainda pensamos como os portugueses do século XVI quando subjugamos a cultura indígena, considerando-os selvagens e colocando em segundo plano a sua participação na sociedade. Desse modo, nos colocamos como centro, e a eles como bárbaros, mesmo após 300 anos da colonização. Logo, prova disso é o fato de classificarmos, popularmente, nossa língua como oficial, enquanto as deles são dialetos, assim como a nossa cultura é classificada rica e civilizada, enquanto a deles é considerada folclore por muitos de nós. A questão cultural não é, contudo, o único problema. De acordo com o filósofo alemão Hans- Hermann Hoppe, a propriedade privada sobre a terra deriva de princípios jusnaturalistas, é pertencente aquele que primeiro a ocupar e realizar atividades sobre ela. No entanto, vemos que os índios brasileiros ainda têm de lutar pela terra. Isso porque a bancada ruralista do nosso país vem tomando terras indígenas para alocar sua atividade comercial - a agricultura e pecuária. Essa situação, contudo, vem dizimando muitas tribos e impedindo o avanço de qualquer instituição que defenda a causa indígena, prejudicando cada vez mais os que seriam os primeiros a usar a terra: os índios. Fica evidente, portanto, que essa é uma situação que não podemos mais sustentar. Encarar os índios como intrusos, negando-os terra, voz, identidade, não pode mais ser uma prática da sociedade. Para tanto, é necessário que o Governo Federal e a Funai, impeça a agricultura e a pecuária de avançar sobre as terras desses povos, garantindo a vida e o sustento de muitas famílias. Por fim, um vez tendo seus direitos básicos garantidos, fica mais fácil conservar e difundir sua cultura através dos trabalhos das ONGs brasileiras. Assim, sanaremos a dívida dos nossos colonizadores, devolveremos a casa aos inquilinos e garantiremos que todo dia voltará a ser dia do índio.