Título da redação:

Entre a negligência e os micropoderes

Tema de redação: Os desafios do bullying nas escolas

Redação enviada em 23/10/2017

O bullying é um termo utilizado para descrever agressões intencionais, físicas ou psicológicas, praticadas, sobretudo no ambiente escolar, de modo repetitivo e sem motivo aparente. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses atos de violência aumentaram aproximadamente 30% desde 2012. À vista disso, para compreender e enfrentar esse preocupante desafio, faz-se necessário analisar tanto as ações governamentais quanto a mentalidade social. É indubitável que as políticas públicas e suas aplicações estão entre as causas do problema. Embora o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, implementado em 2015, tenha sido um grande progresso em relação à prevenção e ao enfrentamento do bullying, ainda há falhas que permitem a ocorrência dessa forma de violência. Faltam, por exemplo, cursos de capacitação de docentes e pedagogos para que eles saibam lidar com a problemática no ambiente escolar. Além disso, são poucas as instituições de ensino que disponibilizam a assistência psicológica tanto para as vítimas quanto para os agressores, haja vista que ambos são mais propensos a faltar às aulas, a abandonar os estudos e a ter piores desempenhos acadêmicos quando comparados aos estudantes que não tem relações conflituosas com os colegas. Outrossim, o filósofo Michael Foucault destaca a função normalizadora e disciplinar dos micropoderes, a exemplo das famílias, na sociedade. Essa instituição impõe aos indivíduos padrões comportamentais. Nessa perspectiva, crianças e adolescentes que vivem em ambientes familiares, os quais transmitem valores, como a violência, a intolerância e o preconceito, tendem a adotar essas condutas devido à vivência em grupo. Assim, evidencia-se a importância desses agentes sociais para promover a formação educacional dos infantes, de modo a ensinar princípios pautados no respeito, no altruísmo, na empatia e na solidariedade. Destarte, o bullying é resultado da ainda fraca eficácia das ações governamentais e da imposição de costumes hostis, por uma parte dos micropoderes. Urge, portanto, que o Ministério da Educação, aliado às universidades federais, realize cursos de capacitação de docentes e pedagogos, de forma a orientá-los sobre como identificar e como reprimir os possíveis casos de intimidações sistemáticas no ambiente escolar. Ademais, é imperativo às prefeituras municipais fomentarem parcerias com os conselhos tutelares e as instituições de ensino, de modo a disponibilizar assistência psicológica para as vítimas e para os agressores e a garantir o desenvolvimento social e cognitivo do grupo infanto-juvenil. Por fim, o Ministério dos Direitos Humanos deve promover campanhas, por meio das redes sociais, como forma de destacar importância das famílias para desenvolver, em crianças e adolescentes, valores como o respeito, a tolerância e a solidariedade.