Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: Os desafios da igualdade de gênero no Brasil

Redação enviada em 04/10/2018

Amélia, mulher brasileira, de verdade. Dedicada, leal, amorosa, dona de atitude, inteligência e legítima vaidade. Apesar de todo o amor e dedicação, chorou- fora distratada pelo companheiro, apanhou. Trabalhou mais, ganhou menos e foi desrespeitada pelo chefe. Cansada, desistiu, pediu as contas e foi embora. E foi assim, em forma de música, que o saudoso sambista Ataulfo Alves retratou, em 1942, a saga da mulher brasileira. Desde então, passaram-se 76 anos e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no Brasil aumentam consideravelmente, impedindo o pleno desempenho delas no âmbito social, familiar e profissional. Da mesma forma que a maioria das brasileiras, Amélia fora ensinada a se comportar como uma “verdadeira” mulher: se desdobrava para conseguir agradar ao marido, cuidava da casa, educava os filhos e, quando necessário, trabalhava fora com autorização do marido. Por outro lado, o companheiro de Amélia não precisava se esforçar tanto quanto ela pois o “status quo” masculino e o modelo familiar patriarcal sempre o isentaram disso. Surpreendentemente, em pleno século XXI, muitos consideram o modelo “Amélia” como sendo o da “mulher de verdade”, ignorando o fato de que essa mesma mulher que com esmero cuida da casa e da família, é compulsoriamente levada a abrir mão dos seus sonhos e direitos como pessoa. Ratificando essa realidade, o relatório de 2018 da “Organização Internacional do Trabalho” revela que as demandas enormemente desiguais enfrentadas pelas brasileiras no que diz respeito aos afazeres domésticos e familiares se refletem no mercado de trabalho, o que dificulta a realização pessoal e profissional dessas mulheres. Nesse sentido, vale ressaltar que a decisão de abandonar a carreira profissional ou acadêmica não ocorre de maneira deliberada para a maioria das “Amélias” brasileiras, mas sim em virtude das obrigações para com o lar -normalmente impostas pelo modelo comportamental exigido pela sociedade e, majoritariamente, pelos cônjuges. Ademais, apesar de as mulheres serem a maioria da população brasileira, pesquisas do Pnad apontam que elas possuem maior escolaridade, mas recebem cerca de 30% a menos do que os homens -mesmo que apresentem melhor desempenho no cargo. Ainda, elas sofrem descriminação e assédio no ambiente de trabalho, além de padecerem frente aos altos índices de violência doméstica e de feminicídio quando estão em casa. Por causa disso, as “mulheres de verdade” são protagonistas de uma das questões mais preocupantes no cenário social atual: o Brasil é um dos países com maior desigualdade entre gêneros no mundo e, com pouquíssimas ações governamentais efetivas de combate ao problema, tende à estacionar no quesito da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Logo, a fim de garantir às cidadãs brasileiras um destino melhor do que o da “Amélia” de Ataulfo, caberá às escolas incluírem em seus planos pedagógicos ações de conscientização acerca da importância da igualdade de gênero na sociedade. Para tanto, os educadores deverão ministrar palestras aos alunos, permitindo que eles participem ativamente das discussões e formem opiniões positivas sobre a necessidade de equidade entre gêneros. Por sua vez, as empresas brasileiras deverão instituir normas internas de gestão de pessoas que assegurem às funcionárias os mesmos direitos garantidos aos homens, tornando-se, assim, instituições socialmente responsáveis.