Título da redação:

Entre vícios

Tema de redação: Obesidade: problema de saúde ou problema social?

Redação enviada em 23/08/2016

Braços finos, pernas magras, ossos aparentes, desnutrição. Fotos de lugares, nos quais a comida é um fator limitante, quando aparecem online ou em mídias televisivas causam comoção e tristeza daqueles que vivem outra realidade. Por outro lado, o seu oposto, “braços grossos, pernas gordas, gordura aparente” tem se tornado um retrato real de grande parte da população de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, como é o caso brasileiro. Enquanto a magreza extrema choca, o excesso de peso virou normalidade, assim como os diversos impactos negativos dos quilos amais na saúde da população. Para reverter esse cenário, é preciso que entenda-se a obesidade como um problema que reflete de novos padrões sociais adquiridos. Em primeiro lugar deve-se perceber que a obesidade deriva de um processo vicioso em relação a comidas ultra processadas. Isso acontece porque desde cedo os pais são induzidos pela propaganda e pela indústria média a complementarem o aleitamento materno com leites em pó e papinhas industrializadas. Como esses produtos são saturados de açúcar, gorduras e sal, acostumam o paladar infantil a essas substâncias, assim como tornam essas crianças, desde cedo, sedentas por esse tipo de fonte alimentar, já que essas, principalmente o açúcar, ativam os centros de recompensa do cérebro quando consumidas. Isso resulta em prazer com sua ingestão, bem como em abstinência e o desejo por mais na sua ausência, em um processo que se assemelha biologicamente ao vício por cocaína e outras drogas ilícitas, E esse comportamento vicioso é, por sua vez, reforçado pela significação emotiva que a comida não saudável adquiriu nessas sociedades. Isso porque os momentos importantes da vida de um indivíduo, desde sua infância, estão, quase sempre, associados a uma alimentação pouco nutritiva, como os aniversários e os finais de semana com os amigos ou com a família. Desse modo, a comida industrializada também é, para muitos indivíduos, uma fonte de conforto e de lembranças alegres, ao passo que as comidas saudáveis são, quase sempre, encaradas como obrigações cotidianas e rotineiras. Muitos pais, inclusive, subornam o filho para comer seu prato de arroz, feijão e legumes, por exemplo, com sobremesas açucaradas, o que, por si, já reforça o carácter negativo daquilo que é saudável, ao passo que valoriza o que não é. A soma disso tudo resulta em uma sociedade que come uma grande quantidade de produtos muito processados, pouco saudáveis e extremamente calóricos. Consequentemente, como demonstrado no documentário brasileiro “Muito Além do Peso”, uma série de problemas de saúde associados a obesidade, como diabetes e hipertensão arterial, são cada vez mais comuns, até mesmo entre as crianças. Torna-se evidente, portanto, que os altos índices de obesidade na contemporaneidade derivam diretamente de novos hábitos sociais, os quais estimulam a dependência química e emocional por comidas pouco nutritivas e muito calóricas e, como resultado, elevam inúmeros problemas de saúde na população. Nesse sentido, para reverter esse ciclo é fundamental que os pais já conscientes unam-se em ONG's e grupos online ou presenciais para exigir do Governo Federal a proibição de propagandas de produtos pouco saudáveis, assim como para divulgar e estimular um estilo de vida mais benéfico, como fez em publicação recente o grupo de Facebook “MILC – Infância Livre de Consumismo”, ao postar em sua página exemplos de pratos nutritivos para aniversários infantis. Além disso, o Ministério da Cultura e o MEC devem atuar em protocooperação para estimular e divulgar a criação de documentários, como o “Muito Além do Peso”, e outras mídias que denunciem o problema da obesidade e valorizem a alimentação natural. Para viabilizar esses projetos, o Legislativo pode criar uma lei que determine que as indústrias de produtos alimentares processados devem doar parte de seu lucro para combater a obesidade, de modo a financiar essas iniciativas. Dessa forma, será possível para os brasileiros deixarem os vícios e readquirirem seus corpos saudáveis.