Título da redação:

Entre a negligência e o estigma

Tema de redação: Obesidade: problema de saúde ou problema social?

Redação enviada em 25/10/2017

A obesidade é uma realidade cada vez mais preocupante para a sociedade brasileira. Segundo o Ministério da Saúde, o número de pessoas que estão acima do peso aumentou em 60% entre os anos de 2006 e 2016. À vista disso, para compreender e enfrentar esse desafio, que é tanto um problema de saúde pública quanto um problema social, faz-se necessário ampliar as ações governamentais, bem como promover mudanças no comportamento coletivo. Por certo, o excesso de peso é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, como a hipertensão e a diabetes tipo 2. O tratamento de pessoas as quais vivem com essas patologias é longo e com altos custos, haja vista que na maioria dos casos não há cura, há apenas terapia paliativa. Nesse sentido, apesar dos avanços na prevenção e no combate à obesidade, como o Guia Alimentar para a População Brasileira, cujo objetivo é orientar os cidadãos sobre formas adequadas de nutrição, os alimentos mais saudáveis, conhecidos como “in natura”, a exemplo dos vegetais e das frutas, são mais dispendiosos quando comparados aos industrializados, que são altamente calóricos e de preparo rápido e fácil, como os sanduíches e os refrigerantes. Outrossim, observa-se o estigma contra o grupo social em questão como impulsionador da obesidade. Nessa perspectiva, o filósofo Michael Foucault destaca a função normalizadora e disciplinar dos micropoderes, como a mídia, na sociedade. Essa instituição impõe aos indivíduos um padrão estético que associa a beleza ao corpo magro e que, concomitantemente, fomenta o estereótipo o qual relaciona o excesso de peso a imagens jocosas e pejorativas. Em decorrência disso, o que deveria protagonizar a preocupação com a saúde e com hábitos alimentares saudáveis, torna-se, em si, o agente principal de legitimação da gordofobia – discriminação e hostilização de pessoas obesas e seus corpos, agravando o problema no Brasil. Percebe-se, destarte, que a obesidade é resultado da fraca eficácia das políticas públicas e do padrão imposto pelos micropoderes. A fim de enfrentar esse desafio, é imperativo ao Ministério da Fazenda não só subsidiar alimentos saudáveis, advindos da agricultura familiar e da produção orgânica, como também impor taxas aos produtos processados, calóricos e pouco nutritivos. Ademais, cabe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elaborar uma regulamentação para propagandas de comidas industrializadas, de maneira que esses anúncios contenham mensagens de advertência, semelhante às usadas em embalagens de cigarro, para alertar a população sobre os riscos do consumo desses mantimentos. Por fim, o Ministério da Saúde, aliado às mídias, como os canais abertos de televisão, deve promover campanhas de valorização de todas as formas corporais, protagonizadas, sobretudo, por pessoas obesas, como forma de desmitificar o estigma do excesso de peso.