Título da redação:

Dissabor

Tema de redação: Obesidade: problema de saúde ou problema social?

Redação enviada em 01/11/2017

Potencializada pelo contexto após a Segunda Guerra Mundial, quando as tecnologias desenvolvidas para o conflito passaram a ser usadas também na indústria de alimentos enlatados e artificiais, a obesidade tornou-se a maior pandemia do século 21. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, essa é a doença que mais cresce e mais mata no mundo. Diante desse quadro, aspectos relevantes relacionados a tal fenômeno são a industrialização do setor alimentício e a aversão a obesos. Primeiramente, destaca-se que o ultraprocessamento industrial dos alimentos é o principal precursor da obesidade em todas as idades. Isso ocorre porque esse tipo de alimentação tornou-se o padrão moderno de produção e consumo ao vender produtos baratos e práticos, em detrimento dos alimentos naturais. Porém, tais produtos possuem altas doses de açúcar, gordura e sal, formando uma combinação ultrapalatável que condiciona o paladar a esses sabores. Assim, o consumo regular desse tipo de comida gera vício alimentar e acentuado ganho de peso, haja vista que agrega à dieta diária um alto valor de "calorias vazias", conceito criado pelos nutricionistas para designar alimentos muito calóricos e pouco nutritivos. Acerca disso, os dados mais alarmantes referem-se à obesidade infantil e revelam que 33,5% das crianças brasileiras são obesas, segundo a Secretaria de Direitos Humanos. Sob o olhar da Biologia, a obesidade é preocupante porque agrega muitos fatores de comorbidade, os quais agrupam uma série de doenças atreladas a ela, como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Em referência a esse assunto, o livro "Sugar blues" e o documentário "Muito além do peso" relatam como os alimentos industrializados atuam como verdadeiras drogas alimentares. Outrossim, também existem sérios impactos sociais gerados pela obesidade. Esses podem ser explicados pelo fenômeno da gordofobia, o qual abrange o preconceito e a discriminação contra os obesos no mercado de trabalho, nas instituições de ensino, nos meios de transporte, em lojas de roupas e em locais de entretenimento. E a origem desse comportamento na História remonta o paradigma judaico-cristão clássico, o qual relaciona a obesidade com falta de autocontrole, de inteligência emocional, de retidão espiritual, com incapacidade para gerenciar a própria saúde e com fracasso pessoal, o que leva a sociedade a marginalizar os obesos até hoje. Sobre isso, um estudo inglês revelou que obesos têm 20% menos chances de casar e 50% menos de cursar o nível superior, salários 9% menores e sete vezes mais propensão à depressão. Como exemplo, pode-se citar uma reportagem do programa "Conexão repórter", do SBT, mostrando que uma mulher magra e dentro dos padrões de beleza atuais conseguia entrar em uma boate sem convite e sem pagar, enquanto uma obesa era simplesmente impedida de entrar, mesmo pagando. Além disso, ainda há o preconceito travestido de brincadeiras, como nas expressões "gordice" e "tinha que ser gordo", alusões claras de menosprezo e esteriotipação desses indivíduos. É irrefutável, portanto, que a obesidade é um desafio multifatorial que deve ser enfrentado com consciência, informação e respeito. Para tanto, o Ministério da Saúde deve buscar a prevenção desse problema por meio de uma campanha televisiva que informe as quantidades de sal, açúcar e gordura dos alimentos processados e as doenças que esses podem causar, a fim de esclarecer a sociedade sobre os riscos desse tipo de alimentação e de incentivar mudanças de hábito. Por exemplo, uma propaganda simples mostrando que uma lata de refrigerante contém 8 colheres de açúcar poderá alertar muitos consumidores. Paralelamente, deve cuidar daqueles que já estão em situação de obesidade ou sobrepeso através de programas antiobesidade nos hospitais públicos, oferecendo acompanhamento nutricional e medicamentos inibidores de apetite e catalisadores de gordura corpórea liberados pela Anvisa, objetivando recuperar a saúde desses pacientes e reduzir o número de doentes relacionados ao excesso de peso. Por sua vez, as diversas mídias devem usar sua influência comunicativa para combater a gordofobia, inserindo enredos, personagens e comerciais no contexto de suas programações para esclarecer os efeitos negativos para as vítimas desse preconceito e a inaceitabilidade desse comportamento por parte de todos os setores da sociedade, desde empresas até os próprios familiares. Dessa maneira, tais medidas têm alta factibilidade para, em um só tempo, reduzir a obesidade enquanto doença física e combater o preconceito social relacionado a ela. Afinal, como dizia Albert Einstein, "as pessoas têm que aprender a olhar menos para fora e mais para dentro de si mesmas".