O DNA da espécie humana está inalterado há mais de cem mil anos, segundo pesquisas fósseis. A sua alimentação, no entanto, sofreu drásticas mudanças, marcadamente em dois períodos históricos: há dez mil anos, na revolução agrícola, quando nomadismo foi superado; e no século passado, na revolução verde, em que a implementação de novas tecnologias no setor primário foi acompanhada da ascensão de produtos alimentícios maléficos. Nessa perspectiva, é sensato afirmar que o genoma humano não está adaptado isso. Por conseguinte, a humanidade vem sofrendo muito por doenças crônicas. Entre elas, a obesidade se destaca nos debates acadêmicos, uma vez que determina problemas na esfera da saúde e no âmbito social. Em primeiro lugar, é fundamental pontuar que o DNA não é a principal causa da obesidade, e que a maior predisposição de algumas pessoas decorre, principalmente, de desequilíbrios no sistema endócrino. A dieta ocidental moderna, por outro lado, é determinante na acumulação de gordura visceral, ao incluir os óleos hidrogenados, as farinhas refinadas de trigo hibridizado e o recente xarope de milho rico em frutose. O excesso de gorduras trans e de carboidratos de alto índice glicêmico, dessa forma, perturbam o metabolismo de hormônios como a leptina e a insulina, o que favorece compulsões alimentares e, consequentemente, a transformação do excesso de açúcares em triglicerídeos, compondo um tecido adiposo inflamatório. Com efeito, é notório o aumento da predisposição a doenças crônicas, incluindo a diabetes, por parte dos obesos. Todavia, os debates recentes têm evidenciado o impacto social desse quadro, haja vista que confronta padrões estéticos e a integridade psicológica dos gordinhos. O senso comum, nesse sentido, na medida em que reafirma o mito de que pessoas gordas são compulsivas e necessariamente culpadas por isso, alimenta a gordofobia que, por sua vez, resulta em bullying e, até mesmo, na rejeição de empregos a esse grupo. Dessa maneira, os que estão acima do peso sofrem olhares de desaprovação constantes, quando não são ridicularizados, por fugirem do padrão estético social vigente. Entende-se, portanto que a obesidade, causada por dietas inadequadas, tem como consequência o agravamento do cenário de saúde pública e, também, atitudes discriminatórias. É fundamental, desse modo, uma ação conjugada de vários setores da sociedade. Ao legislativo, cabe à aprovação de leis que obriguem a colocação de mensagens de advertência quanto à obesidade, em produtos ricos em hidratos de carbono e gorduras oxidadas. Ao Governo Federal, a destinação de recursos a ONGs engajadas na disseminação de práticas saudáveis de alimentação e, sobretudo, à ampliação da saúde primária. Por fim, as escolas e as famílias devem reunir esforços na luta contra a gordofobia, através de informações que esclareçam o funcionamento da problemática em questão. A educação alimentar, ainda, deve ser presente na vida dos infantes, de modo a tentar superar esse impasse que tanto impacta na vida privada dos brasileiros.