Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, o capitalismo gera problemas que não é capaz de enfrentar e, quando tenta resolvê-los, não pode fazê-lo sem contrariar seus próprios pressupostos. A presença intensa da inovação tecnológica é uma das facetas desse sistema e permeia, em maior ou menor grau, diversos aspectos do dia a dia. Em relação à alimentação, os processos industriais prezam pela reinvenção e praticidade, mas nem sempre privilegiam o valor nutricional dos produtos desenvolvidos. Essa negligência, alinhada ao ritmo de trabalho intenso exercido pela maioria da população acaba por gerar um problema de saúde pública: a obesidade, fenômeno que se tornou típico de sociedades altamente industrializadas e promove impactos físicos, psicológicos e financeiros. Sob a perspectiva do Estado, torna-se necessário analisar a influência do atual regime de horas trabalhista na intensificação do processo de descuido pessoal. O cumprimento de compromissos profissionais é priorizado pela população, que acaba por não dar a devida atenção à composição e procedência dos alimentos ingeridos. Além disso, a rotina extenuante relega qualquer prática de exercícios físicos ao plano imaginário. Em contrapartida, a atuação midiática da indústria alimentícia promove o apelo à compra de determinados produtos que, embora sejam comercializados como nutritivos, são, na realidade, constituídos por substâncias prejudiciais. E, nesse contexto, o público infantil, mais vulnerável à imposição da publicidade, torna-se vítima de doenças ligadas à má alimentação e apresenta risco elevado de desenvolver sobrepeso. Além disso, a existência de um estereótipo em torno do biótipo ideal impõe paradigmas a serem respeitados e provoca a rejeição àqueles que não atendem aos padrões estabelecidos, provocando disfunções psicológicas depressivas ligadas à não aceitação pessoal. Portanto, fica evidente que a questão da obesidade possuiu componentes sociais e psicológicos e exige a reestruturação de diversas dimensões sociais. Em primeiro lugar, o poder público, por meio dos órgãos trabalhistas e das Secretarias de Esporte, precisam estudar a possibilidade de propor a redução das jornadas de trabalho e oferecer alternativas de lazer e esporte ao ar livre à população em geral. Ainda, a população deve se responsabilizar pela qualidade nutricional de sua alimentação e incentivar, especialmente nos ambientes escolares, a conscientização quanto à importância de uma boa alimentação, sugerindo práticas lúdicas como o cultivo de hortas orgânicas e realização de atividades ligadas à natureza pela comunidade.