"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." Na obra de Machado de Assis, Brás Cubas, questiona a realidade deplorável que a humanidade vive e propaga através das gerações. Basta observar as ruas do país, onde centenas de crianças passam por situações de abandono, violência e exploração. Esses são os principais motivos que levam algumas famílias a perderem seus menores, levados aos abrigos para recorrerem à adoção. No entanto, o processo de adoção no país enfrenta, ainda, muitos impasses. Na espera por adoção, crianças e adolescentes enfrentam restrições das famílias e a realidade dos abrigos. Dados do ano de 2015, apontaram que para cada criança a ser adotada, exitem pelo menos seis pretendentes procurando por um filho. Há uma alta exigência, dos que querem adotar, por menina, branca, com idade inferior a dois anos e que não possua nenhum problema físico ou mental. Isso mostra a seletividade que existe na escolha por um filho adotivo, onde apenas 11% dos pretendentes não se importam com a idade ou características e 87% das crianças têm mais que cinco anos. São inúmeros os dilemas que explicam esse quadro. Preocupações com o preconceito da sociedade, faz com os indivíduos não encarem o desafio de ter uma criança negra ou deficiente. Já os casais que têm preferência por crianças menores de um ano, alegam que querem passar por todas as etapas da vida da criança, participando na formação da mesma. Outro problema é a burocracia que exite em relação aos adotantes. Para adotar uma crianças a pessoa deve possuir alguns requisitos, como por exemplo, ter diferença mínima de dezesseis anos do adotado, dificultando os casais mais jovens na adoção de adolescentes. Fica evidente, por tanto, a existência de problemas estruturais e culturais no Brasil que prejudicam inúmeras crianças. É preciso que o Governo crie campanhas de incentivo à adoção aos que não estão mais na faixa etária procurada, apontando as necessidades de acolhimento que essas crianças possuem para a formação do seu caráter. A mídia, como formadora de opiniões, também ajudaria a desconstruir esse conceito de que é difícil educar uma criança após os cinco anos. É importante também, que o Poder Executivo dê suporte às famílias, capacitando os adotantes para a responsabilidade de criar um filho. Somente assim, a humanidade deixará um legado de solidariedade ao qual Brás Cubas pudesse se orgulhar.