Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: O processo adotivo no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 19/07/2016

''Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou'', trecho da música ''Tempo Perdido'' da banda Legião Urbana, parece retratar com precisão a realidade de inúmeras crianças e jovens que, dia após dia, envelhecem aguardando adoção no Brasil. A princípio, a Constituição Cidadã estabelece o direito à convivência familiar como ''absoluta prioridade''. No entanto, 28 anos após promulgada, o processo adotivo no país, apesar de vir colecionando conquistas, enfrenta desafios persistentes na tentativa de dar uma família às mais tenras idades. Por um lado, desde 1988, indubitavelmente houve avanços no país em termos de regulamentação e desburocratização da adoção, assim como na conscientização social acerca da magnitude do ato. Como primeiro exemplo, pode-se remeter à criação, em 2008, do Cadastro Nacional de Adoção, visando maior rapidez e transparência nos processos. Outrossim, hoje existem inúmeros cursos de preparação para a adoção. E, por fim, desde 1996, vigora em maio o Dia Nacional da Adoção, uma data onde é lembrada nacionalmente a importância do ato adotivo em si. Todavia, ainda há uma série de entraves que, em grande parte, residem na própria mentalidade daqueles dispostos a adotar. Em outras palavras, aqueles que visam a serem pais preferem um perfil de adotando de até um ano de idade, sem problemas físicos ou irmãos, branco e do sexo feminino, projetando um ideal de filho que não atende à realidade de grande parte dos jovens disponíveis, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça. Para se ter noção, de acordo com o CNJ, 87,4% das crianças têm mais de 5 anos, 67,8% não são brancas e 76,8% possuem irmãos. Para cada uma delas, haveria 6 adotantes, se não fosse a enorme seletividade das escolhas. Logo, gesto tão crucial no combate ao desamparo infantil e adolescente, o processo adotivo no Estado Brasileiro caminha a passos lentos diante, entre outros fatores, das exigências dos adotantes. Portanto, a fim de atenuar o problema e de consolidar o que já foi feito, é preciso que o Poder Público vá além dos eventos do Dia Nacional, financiando campanhas midiáticas rotineiras sobre o tema, visando estimular a adoção daqueles ''fora do padrão'' e o debate sobre questões como desigualdade racial no processo adotivo. Além disso, as Varas da Infância e da Juventude poderiam ampliar os grupos de apoio à adoção, para que, enfim, haja a conscientização de que adotar é mais do que uma questão privada, mas um ato social.