A trama “Ensinando a viver” conta a história de David, um escritor bem sucedido que por meio da adoção tardia torna-se pai do menino Dennis. Nesse cenário, a narrativa retratada no filme reflete o desejo de ter uma família de milhares de crianças e adolescentes que encontram-se disponíveis para adoção no Brasil. Entretanto, casos como o de Dennis não são frequentes, as restritas preferências dos adotantes, aliada aos entraves burocráticos corrobora para que muitos desses continuem vivendo em instituições de acolhimentos sem a perspectiva de serem adotados. Mormente, deve-se salientar que o número de pessoas que desejam constituir uma família é 6 vezes maior que o número de infantes e jovens aptos a serem adotados. Nessa conjectura, a discrepância entre os números dá-se pelo fato de que aqueles que desejam ser pais, possuem uma idealização de um modelo de criança a ser adotado, que em geral não corresponde aqueles que estão disponíveis para o processo. Desse modo, adolescentes, crianças negras e deficientes tornam-se invisíveis na fila de espera, já que não se encaixam no padrão desejado – etnia branca, com idade menor que cinco anos e saudável - o que corrobora para que esses sejam privados de seu direito de ter uma família. Ademais, outro agravante dá-se devido à morosidade do processo no âmbito jurídico. Apesar dos avanços obtidos com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que estabeleceu regras para a adoção, essas não são suficientes para que o processo seja finalizado com rapidez. A exemplo disso, a destituição do poder familiar que deveria levar no máximo 120 dias para ser encerrada, leva em média 4 anos para ser concluída, segundo dados do G1. Dessa maneira, crianças que estariam aptas a serem adotadas, passam a ter menos chances de serem inseridas no meio familiar devido à lentidão dos tramites processuais. Destarte, fica evidente que o que tangue processo adotivo brasileiro ainda há vícios que devem ser reparados a fim de garantir que milhares de brasileirinhos, assim como Dennis possam crescer no seio familiar. Nesse sentido, faz-se necessária a ação conjunta entre Estado e meios midiáticos. Primordialmente, cabe ao Estado ampliar a estrutura da Vara da Infância, a fim de diminuir os entraves do sistema, facilitando assim que mais infantes sejam adotados. Por fim, a mídia deve promover campanhas que visem estimular a adoção tardia e a não seleção dos adotados, garantindo assim que todos tenham oportunidades de pertencerem a uma família.