Título da redação:

Espólios de um Baby Boom

Tema de redação: O processo adotivo no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 14/06/2016

Com o fim da segunda guerra mundial, a sensação de paz reinou, resultando em um aumento da taxa de natalidade em todo o mundo, principalmente na Europa, fenômeno chamado de "baby boom". No Brasil, esse fenômeno ressaltou com a deposição do então presidente João Figueiredo, encerrando o regime militar vigente. A alta taxa de nascimentos, no entanto, evoluiu em um alto número de crianças indo para orfanatos e instituições de adoção. O governo enfrenta agora a difícil tarefa de dar uma família para essas crianças e adolescentes, entretanto, com uma fila de adoção cada vez maior, mesmo com o alto número de interessados em adotar, questiona-se se o governo é realmente capaz de lidar com a questão. É notório que o alto número de interessados seja de difícil escoamento, afinal, grande parte desses exigem um fenótipo específico: crianças brancas e com idade inferior a um ano. Tais características, no entanto, representam apenas uma pequena parcela do total de crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que há apenas 6% das crianças aptas aos adotandos têm menos de um ano de vida e mais de 88% têm mais de 5 anos. O problema é intensificado ainda mais conforme a idade das crianças e adolescentes aumentam, causando a sensação nos infantos, e, principalemente, nos juvenis de serem eternos órfãos. Não obstante tal preferência, casais jovens que querem fugir de tal padrão e aceitam adotar uma criança de outra etnia e com idade mais avançada, esbarram na inflexibilidade legal. Segundo a Lei 8.069 de 1990, fica impossibilitada a adoção para pessoas com menos de 16 anos de diferença dos adotados, isso implica em, por exemplo, um jovem casal de 20 anos que não pode ou não quer ter filhos biológicos, serem obrigados a intensificar a fila de adoção por crianças mais jovens, pois não podem adotar crianças mais novas, pois só podem adotar crianças com menos de 4 anos de idade. A adoção no Brasil, portanto, revela problemas estruturais e culturais. O governo deve flexibilizar as leis e acompanhar casos individualmente, para que casais mais jovens possam adotar crianças de idade mais avançada. A mídia, com seu papel de construção de valores e as ONGs especializadas na problemática devem promover campanhas para a adoção de crianças de etnias, raças e com idades mais elevadas, para que assim se possa reviver a sensação de paz deixada pelo período pós ditadura, não só para a população adulta que pode celebrar o momento, mas também para as crianças que foram tratadas como simples espólios de um baby boom.