Título da redação:

Adoção no Brasil - burocracia e segregação

Tema de redação: O processo adotivo no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 11/08/2016

A adoção é um dos dispositivos que tenta solucionar uma problemática social – o alto contingente de crianças que, por motivos diversos, não é criada junto a sua família biológica. Todavia, o adotante, antes de protagonizar uma história de adoção, está ligado intimamente aos preconceitos do grupo social do qual faz parte, e essa visão reflete negativamente nos processos adotivos no país que, em sua maioria, buscam apenas aos chamados bebês de publicidade: meninas, brancas, com até dois anos. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, no Brasil há 5.624 crianças aptas a serem adotadas, contudo a maioria não se encaixa no perfil desejado pelos mais de 30 mil futuros pais já cadastrados, os quais buscam preferencialmente bebês, e cuja aparência seja semelhante à da família em que será inserido. Outros fatores também são responsáveis pela crítica situação da adoção no Brasil, altamente burocrática e segregacionista, como a demora nos processos, o preconceito, a valorização de laços sanguíneos, a interferências das famílias biológicas - que parecem estar ligadas a interesses financeiros, como a inscrição no Programa Bolsa Família ou à possibilidade de venda da criança, entre outros. Diante disso, é notável a inversão de valores que privilegia os interesses dos adotantes em detrimento das crianças e adolescentes, ao criar uma disputa para conquistar a tão sonhada família, algo completamente prejudicial do ponto de vista psicológico. Contudo, apesar do processo adotivo no país esbarrar em diversos estigmas criados pela sociedade e ter se tornado mais um a se enquadrar aos padrões sociais, algumas alterações recentes trouxeram mudanças expressivas. Há pouco mais de 40 anos atrás, somente parceiros casados poderiam ter filhos adotivos. Hoje, diversas decisões judiciais já asseguraram a solteiros, aos casais homoafetivos e até mesmo a divorciados o direito a acolher uma criança. A adoção precisa ser vista como outra via de acesso à família para ambos os lados: quando os possíveis pais conseguem superar os preconceitos sociais e decidem adotar uma criança, surge a possibilidade de um futuro melhor para adotantes e adotados. Estes, ao encontrar um lar feliz e estruturado, recebem amor e afeto, educam-se, e contribuem para uma geração futura ativa econômica, social e politicamente; aqueles, realizam o desejo de serem pais. Entretanto, apesar de alguns avanços, há muito a melhorar. É imprescindível quebrar o estigma social quanto ao processo de adoção – o Governo e ONGs devem se unir para criar uma campanha massiva nas mídias a fim de desmistificar essa cultura que beneficia apenas os laços sanguíneos e promove o preconceito racial. Também é importante que o Legislativo aprove emendas que reduzam os prazos para a família biológica interferir no processo de destituição do poder familiar, além de outros fatores que possam acelerar o processo, ainda bastante burocrático, como a unificação dos cadastros em um banco de dados de fácil acesso na internet por integrantes de todos os órgãos que atuam na questão. Com isso, espera-se que o processo de adoção no Brasil ascenda como um ato de amor, e não como apenas uma opção cercada de preconceitos e interesses.