No conceito defendido por Karl Marx, sociólogo de destaque no século XIX, a sociedade de classes é marcada por conflitos no que se refere ao acesso de bens e serviços. Desse modo, a habitação é um dos bens cujo acesso é negado à grande parte da população que vive à margem da sociedade. Nesse contexto, o Brasil, mesmo com dimensões continentais, apresenta crescente déficit habitacional. Convém ressaltar que, a princípio, o processo de urbanização brasileiro ocorreu de forma desordenada e trouxe um contingente humano superior à capacidade das cidades, o que provocou o surgimento das favelas. Dessa forma, o crescimento populacional desordenado colaborou para a concentração de pessoas em regiões periféricas. Ademais, o processo de favelização resulta na segregação urbana que é um reflexo da exclusão social, causadora de problemas como marginalidade, violência e insalubridade. Em vista disso, a questão habitacional constitui-se como fator que fortalece outras mazelas sociais. Além disso, a especulação imobiliária é um dos fatores que fortalecem esse déficit, pois, com a elevação dos preços dos imóveis, a população é obrigada a migrar para outras regiões. Sendo assim, muitas pessoas acabam ocupando zonas de risco, constituindo então, moradias irregulares que prejudicam tanto o solo, ocasionando enchentes e desabamentos, quanto à própria saúde, porque a maioria desses lugares não possui saneamento básico. Isso é evidenciado no curta-metragem “Não Repara a Bagunça”, dirigido pelo repórter brasileiro Iuri Barcelos, que mostra a realidade precária de famílias que ocupam cerca de 1000 domicílios irregulares do bairro do Jardim Peri em São Paulo, maior cidade do Brasil. Assim, a falta de condições dignas de moradia constitui-se como um problema pertinente a ser reformulado. Entende-se, portanto, que o déficit habitacional no Brasil diz respeito não só à quantidade de áreas habitáveis, mas, sim, a sua qualidade. Por isso, para atenuar essa realidade, é necessário que o Governo Federal atue, em conjunto com os Estados, dando continuidade e criando novos programas de habitação por meio do Ministério das Cidades. É imprescindível, também, que por intermédio de um planejamento urbano inclusivo, novas moradias sejam construídas perto de locais úteis à população. Logo, minimizando as desigualdades sociais nesse contexto, os conflitos da sociedade de classes, defendido por Marx, também serão minimizados.