O livro “O Cortiço”, que marca o movimento realista na literatura brasileira, retrata o cotidiano de diversas pessoas, que vivem aglomeradas em pequenas habitações. Além das obras literárias, o Brasil contemporâneo ainda enfrenta diversos desafios quanto à questão habitacional, com a precariedade de muitas residências no país. Nesse sentido, fatores de ordem política, bem como social, caracterizam o dilema do acesso a moradias adequadas entre os brasileiros. É importante pontuar, de início, a negligência governamental nessa área. À guisa da Constituição Federal de 1988, conhecida como uma constituição cidadã, a moradia é considerada um direito social, sendo dever da União garantir aos brasileiros a habitação. A realidade do país, entretanto, é marcada por falhas tentativas de assegurar essa garantia constitucional, como o projeto Minha Casa, Minha Vida que pouco contribuiu para a redução do deficit habitacional. Tal fator é ratificado por dados de 2014 da Fundação João Pinheiro, que afirmam a existência de 11,3 milhões de famílias vivendo em condições precárias, expondo o caótico quadro habitacional do país ignorado pelos Governos. Outrossim, tem-se as graves consequências do deficit habitacional no Brasil. Como reflexo de um acelerado processo de urbanização, a ausência de moradias para todos provoca o declínio da qualidade de vida de muitos cidadãos, submetidos à falta de água potável e de recolhimento de esgoto, além da ausência de energia elétrica. Em situações ainda mais preocupantes, esse deficit de habitações leva à ocupação de prédios que podem colocar os indivíduos em risco, como no caso do desabamento do edifício no centro de São Paulo, em 2018, que acarretou a morte de cidadãos que tiveram seu direito à moradia negado. É notória, portanto, a relevância de fatores políticos e sociais na problemática supracitada. Nesse viés, cabe aos governos municipais, em consonância com as esferas estaduais e federais, desenvolver projetos de habitação a todos os brasileiros. A ideia da medida é, a partir da construção de moradias no perímetro urbano, além da concessão de auxílios financeiros aos indivíduos sem residência, garantir a todos os cidadãos o direito à habitação. Ademais, cabe às ONGs da área, em parceria com a mídia, alertar os moradores de ocupações nas grandes cidades acerca dos riscos iminentes daqueles edifícios. Essa intervenção deve contar com campanhas nas ruas e com propagandas educativas a fim de orientar a população acerca do tema e buscar alternativas para minimizar os impactos do deficit habitacional no país.