A obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, aborda a questão dos moradores de rua, na figura de meninos abandonados pelo sistema. Além da literatura, o Brasil enfrenta diversos problemas relacionados ao déficit habitacional, dados os elevados índices de brasileiros em moradias inadequadas ou em situação de rua. Nesse sentido, fatores de ordem econômica, bem como social, caracterizam as dificuldades de habitação no país. É importante pontuar, de início, a influência de interesses financeiros no dilema da moradia para muitos brasileiros. À guisa de Marx, em um mundo capitalizado, a busca pelo lucro ultrapassa valores éticos e morais. Essa realidade é amplamente percebida no fenômeno da gentrificação, que promove a retirada da população carente de uma região urbana pela supervalorização daquela área. Tal processo acarreta na marginalização desse grupo social, acentuando o processo de déficit habitacional com residências marcadas por inadequações. Nesse contexto, a revitalização do Porto Maravilha no Rio de Janeiro, em 2016, expôs esse quadro caótico, dada a retirada dos antigos moradores da região a fim de atender os desejos econômicos de “enobrecimento” daquela área. Outrossim, tem-se os impactos sociais do acentuado déficit habitacional no Brasil. Ao atravessar um rápido processo de urbanização, ainda na década de 70, o país passou a apresentar um inchaço populacional em diversas cidades, com consequente processo de favelização. Essa realidade, entretanto, favoreceu a degradação da qualidade de vida de milhares de brasileiros, dada a falta de água potável, de recolhimento de esgoto e de energia elétrica, que fazem parte dos direitos sociais previstos na Constituição de 1988. Como reflexo dessa realidade urbana conturbada, segundo o IBGE, em 2014, mais de 57 milhões de brasileiros viviam em condições inadequadas. É notória, portanto, a relevância de fatores educacionais e sociais na problemática supracitada. Nesse viés, cabe aos governos municipais, por intermédio dos órgãos responsáveis, impedir o processo de gentrificação no meio urbano. A ideia da medida é, a partir da criação de leis que limitem a atuação das empresas nas cidades, garantir a moradia adequada aos cidadãos, minimizando, assim, o déficit habitacional. Ademais, as ONGs, em consonância com a mídia, devem divulgar o caótico quadro social da maioria das cidades brasileiras. Essa intervenção deve contar com campanhas na internet, além de propagandas educativas e telenovelas que abordem o assunto, a fim de promover uma consciência coletiva da necessidade de reformas urbanas. Dessa forma, o Brasil estará no caminho certo para minimizar o contexto abordado na obra de Jorge Amado.