O naturalista Aluísio de Azevedo relata em seu livro ‘’ O Cortiço’’ o cotidiano de famílias que convivem em condições precárias em uma estalagem. Essa conjuntura descrita no século XIX não difere da atual situação habitacional de grande parcela na população brasileira de baixa renda. Isso fere a constituição de 1988, a qual prevê os direitos básicos à vida, incluindo habitações de qualidade. Em primeira instância, o problema habitacional brasileiro é consequência histórica do acelerado e desorganizado êxodo rural do século XX. A industrialização e o avanço tecnológico no campo obrigaram diversas famílias a migrar para as grandes cidades em busca de empregos e essas por sua vez não usufruíam de infraestrutura para receber um amplo contingente populacional. Com isso, a partir da migração em massa foram criados os cortiços e favelas. Ademais, o déficit habitacional está intimamente ligado a qualidade das moradias. A especulação imobiliária dos centros urbanos impede a locação de casas e apartamentos por indivíduos de baixa renda, levando-os as margens das cidades e contribuindo com a favelização. Nesse sentido, a construção de habitações na periferia – majoritariamente em encostas de morros e margens de rios – impede a qualificação das construções tornando-as precárias e assim atentando contra a vida dos moradores. Dada a complexidade do tema abordado, é necessário rever o panorama habitacional brasileiro. Logo, os idealizadores do Projeto Minha Casa Minha Vida devem rever os critérios de inclusão no programa a fim de abranger prioritariamente a população mais carente. Além disso, as prefeituras municipais devem tabelar os preços de locações de imóveis nos centros urbanos como em um sistema de cotas para famílias de baixa renda a fim de amenizar o processo de favelização. Dessa forma, as condições precárias de estalagem no Brasil serão limitadas as obras literárias do Aluísio de Azevedo.