Título da redação:

Práxis da linguagem

Tema de redação: O preconceito linguístico no Brasil

Redação enviada em 10/10/2018

A gramática surgiu na Grécia Antiga com o objetivo de criar um modelo de língua que se elevasse acima da variação e servisse de instrumento de controle social. Nesse contexto, o termo língua passou a ser usado para rotular exclusivamente esse padrão idealizado, literário, enquanto todos os usos reais, principalmente os falados, foram relacionados à categoria do erro. No Brasil, o tema em questão apresenta contornos semelhantes e evidencia uma problemática que persiste intrinsecamente associada à realidade do país: o preconceito linguístico. À vista disso, para compreender e enfrentar esse desafio, faz-se necessário analisar, tanto os métodos de ensino, quanto a mentalidade social de parte dos brasileiros. Por certo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), vigente nas escolas, impulsiona o preconceito linguístico. De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, a compressão da linguagem envolve necessariamente seu uso social, pois se trata de uma práxis. Contudo, o processo de alfabetização, caracterizado por ser tradicional e conteudista, não só suprime a diversidade cognitiva em relação às linguagens e seus códigos, como também impõe um padrão linguístico normativo distante da realidade vivida da língua. Assim, a noção de erro gramatical sobrepõe-se à ideia de adequação ao contexto social de uso da linguagem, o que contribui para agravar o problema no Brasil. Outrossim, segundo o psicanalista Sigmund Freud, o preconceito é uma estratégia eficiente e perversa de controle e de exclusão social, pois instala-se na vida psíquica e é propagado continuamente. Nessa perspectiva, nota-se a permanência, em grande parte do senso comum brasileiro, da intolerância linguística, na qual quaisquer manifestações fora do modelo idealizado são reprimidas, censuradas e, ocasionalmente, ridicularizadas. Prova disso foi o caso do médico Guilherme Capel, que veiculou uma foto em suas redes sociais debochando de erros de português de um de seus pacientes. Diante desse contexto de discriminação, a democracia brasileira torna-se vulnerável, uma vez que as variações linguísticas, além de constituírem o patrimônio cultural do país, são elementos formadores das identidades individual e social. Destarte, para que o preconceito linguístico seja gradativamente amenizado, é preciso que o Ministério da Educação implemente, na BNCC, o conteúdo de Antropologia da Linguagem, o qual considera a diversidade cognitiva e estimula o senso crítico dos alunos, por meio de práticas pedagógicas democráticas, como aulas de leitura de diferentes gêneros textuais e de debates sobre temas como cultura e cidadania, de modo a valorizar as variações linguísticas e a enfatizar o contexto social do uso da linguagem. Além disso, o Ministério da Cultura deve divulgar propagandas institucionais ratificando a importância das diferentes línguas para o patrimônio cultural brasileiro, com postagens nas redes sociais, para que a intolerância linguística seja, de fato, mitigada.