Com a terrível "treva branca", Saramago, em sua obra "Ensaio sobre a cegueira", deixa cegos os habitantes de uma cidade. De maneira idêntica, metaforicamente, encontram-se os cidadãos brasileiros diante do preconceito linguístico no país. Sobretudo, parecem ter perdido a lucidez e o afeto, acarretando problemas sociais devido à falha na educação das escolas e familiar. Deve-se pontuar, de início, que o atraso na educação escolar implica em impactos nefastos atualmente. Bem como o faminto eu lírico da música "Sêca", Djavan, a população sente fome, não literalmente de comida, mas sim de respeito, uma vez que os indivíduos estão sendo menosprezados perante a sociedade, alienando-os dos seus direitos devido a intolerância com os erros no vocabulário padrão ou sotaque regional peculiar. Vale ressaltar, também, que a falha na educação familiar reflete em uma sociedade pouco preocupada, visto que não há conscientização suficiente. Assim como Vinícius de Moraes, em Rosa de Hiroshima, demonstra que embora não tenha uma bomba atômica explodindo na nação brasileira, veem-se feridas abertas no descaso feito com a forma de expressão do linguajar alheio que é prejulgado mesmo havendo compreensão do mesmo. É evidente, portanto, que as variações linguísticas estão presentes na sociedade e merecem compreensão nos meios. Outrossim, é incumbência do Estado a elaboração de projetos nas escolas, acompanhados pelos docentes, para a aceitação da diversidade da língua. Ademais, cabe aos pais educarem seus filhos a fim de torná-los aptos ao convívio com as diferenças. Isto posto, o preconceito linguístico será um problema do passado. Concomitantemente, a população passa a ser os olhos daqueles que não os têm, sem perder a lucidez, mesmo estando no escuro.