Título da redação:

A língua é pra todos

Tema de redação: O preconceito linguístico no Brasil

Redação enviada em 31/01/2018

No contexto sociocultural palavras como “biscoito” ou “bolacha” geraram abertura para a falácia – “é biscoito ou bolacha”, muito utilizada entre paulistas e cariocas.A disputa pela soberania da razão sobre como o alimento deve ser nomeado,vai muito mais além da dicotomia entre o que é certo ou errado.Uma das questões que atinge boa parcela dos brasileiros é o preconceito linguístico, no qual surge a problemática de pensarmos no modo e os motivos de como isso ocorre,e,até que ponto o uso de variantes lexicais pode ser prejudicial na vida daqueles que acabam se tornando reféns dessa situação. O sociolinguista William Labov em sua “Teoria da variação” vai abordar em sua tese o conceito de “comunidades de fala”, em que apresenta a maneira de se identificar tais grupos por meio de: traços linguisticos, normas e atitudes sociais compartilhados entre os falantes de uma região. Já o linguista Ferdinand de Saussure centralizou seus estudos com enfoque na língua, abordando a ideia de “arbitrariedade do signo”.Segundo essa definição, o signo (as palavras), não possuem um significante (sons) fixado a um significado (o objeto no mundo), pois sua união é sempre imotivada. No Brasil, temos muitos exemplos presentes para ilustrar essa ideia como no caso da mandioca popularmente conhecida entre os paulistanos, mas ao sul do país nomes como aipim, macaxeira e castelinha também designam o alimento. E ao analisarmos as teorias de cada linguista, é possível perceber que com a formação de uma comunidade de fala, o uso de variantes se torna inevitável diante da arbitrariedade do signo.Ademais, o que reforça novamente a ideia de que a gramática normativa deve ser usada na fala, está associada a desinformação de que tal ferramenta foi desenvolvida para a escrita, tendo em vista que não falamos assim como escrevemos. Em cidades com grandes centros urbanos, historicamente ocorreram processos de isolamentos geográficos, o que após o exôdo urbano resultou no desenvolvimento de “periferias”.Nessas comunidades de fala, o uso de gírias se tornou cada vez mais frequente e até mesmo de marcadores conversacionais específicos como “mano”,”parça”,”jão” e entre outros. No entanto,sua utilização em contextos diferentes de sua comunidade de fala, provocam estranhamentos e incompreensão do que se visa comunicar quando há confronto entre os falantes de cada comunidade e esse fato somado à falta de acesso a escolaridade e desigualdade socioeconômica são alguns dos motivos que observamos hoje.Além do mais, os efeitos desse confronto causam impactos socias determinantes na vida dessas pessoas que adentram ao mercado de trabalho, pois quando são colocadas em situações de aprovações como em entrevistas, dinâmicas e provas são pré-julgadas e, muitas vezes até hostilizadas, o que acaba impedindo sua ascensão social em decorrência do preconceito linguístico. Contudo, as maneiras para se obter a resolução do problema pela raiz, deve ter como pauta o acesso mútuo entre as diferentes classes sociais a gramática normativa em que a iniciativa municipal poderia criar cursos introdutórios de língua portuguesa, principalmente para aqueles que hoje não ocupam seus locais de origens e se deparam com o problema. Nas escolas, a abordagem de palestras sobre como usar a linguagem em diferentes contextos também é um mediador de conscientização até mesmo para aqueles que visam o mercado de trabalho.Evitar a constante correção alheia é uma ação que pode diminuir a pressão social sobre aqueles que não dominam o normativismo e ainda demonstrar sinal de respeito com o próximo.