Título da redação:

Epidemia de cesáreas

Tema de redação: O parto como questão de saúde pública no Brasil.

Redação enviada em 30/09/2015

Em 2015 a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou sobre o excesso de cesarianas realizadas no país. O Brasil é o líder no ranking, com mais de 50% dos nascimentos ocorridos dessa forma –o ideal é de apenas 15%. Tal procedimento, no entanto, é estimulado apenas quando o parto normal pode levar à morte da gestante ou do bebê. Diante de uma redução constante do processo cirúrgico em todo o mundo, alguns fatores infraestruturais e culturais fazem o Brasil opor-se ao fluxo mundial. O grande número de cesarianas no país está centrado, sobretudo, no conceito de uma cultura “medicocêntrica”. Com a estruturação do sistema público de saúde e regulamentação da cesariana na década de 1990, o médico deveria estar presente durante o parto para poder receber o pagamento. Assim, um procedimento antes realizado por obstetrizes passou a ser feito por médicos. No entanto, esses profissionais não são suficientes para atender à demanda de nascimentos. Desse modo, fortaleceu-se o parto cesáreo, já que é mais conveniente para o médico por ser mais rápido e poder ser programado, além de ser mais lucrativo. Soma-se aos problemas estruturais da saúde a negligência ao parto normal. Esse, de fato, submete a gestante a dores desnecessárias, com métodos ultrapassados usados para acelerar um processo natural. Além do medo da dor, as mulheres dificilmente encontram as informações necessárias para poderem decidir por si só. Os médicos, direta ou indiretamente, induzem a escolha, uma vez que nem sempre mostram-se dispostos a esclarecer e quebrar os “tabus” que as futuras mães levam para o consultório. Torna-se evidente, portanto, a necessidade de mudança desde a infraestrutura da saúde até a atenção dada às gestantes. É preciso expandir o parto para uma equipe multidisciplinar, com enfermeiras obstetras, como acontece em todo o mundo, descentralizando o papel do médico, o qual será chamado apenas se acorrer algo anormal. Campanhas de conscientização sobre os tipos de partos e seus riscos devem ser veiculadas nas grandes mídias, nas clínicas e hospitais, a fim de que as pessoas tenha acesso fácil a essas informações. Apenas assim será possível “reumanizar” um momento tão importante para as gestantes e suas famílias.