Título da redação:

Ciclo interrompido

Tema de redação: O parto como questão de saúde pública no Brasil.

Redação enviada em 06/08/2015

O Brasil lidera a posição mundial do país, que possui o maior número de realizações de cesáreas. Isso se deve a um conjunto de fatores, os quais criaram um mito sobre os benefícios da intervenção cesariana em detrimento ao parto normal. Discussões acerca do tema relacionam as funções da cesárea, as consequências de sua aplicação desnecessária e os benefícios da escolha pelo parto vaginal. A cesariana foi introduzida na Medicina com o intuito de realizar partos delicados, em casos onde a gestante apresenta complicações. Entretanto, essa vem sendo efetuada deliberadamente nos hospitais e, clínicas brasileiras. A falta de assistência oferecida às grávidas, o custo-benefício na aplicação de uma intervenção cirúrgica são apontados como fatores decisivos, os quais coagem as mulheres a optarem pela sua realização. A disseminação de cesáreas dispensáveis traz como primeiro efeito negativo, prematuridade ao recém-nascido. Além disso, as gestantes brasileiras tem sido submetidas à chamada violência obstétrica, a qual se caracteriza pela falta de embasamento científico dado aos partos, excesso de indivíduos nas salas de cirurgias e à constante intervenção mecânica e humana em um processo que ocorre naturalmente. Frente a essa difusão de cesarianas, órgãos e entidades relacionadas à saúde vem divulgando as vantagens da opção pelo parto normal e humanizado, o qual não estabelece padrões nem tempo para o nascimento, tendendo a respeitar a reação e evolução do corpo feminino. Com isso, eles querem provocar uma mudança de visões perante os diversos partos, baseados em estatísticas, que demonstrem a necessidade de controle cirúrgico nessa área, visto que, essa inclinação carrega um apelo cultural, que deve ser reconstruído, tal como mostrou o documentário O Renascimento do parto, de 2013, produzido por Érica de Paula e Eduardo Chauvet. O parto cesáreo se alastrou pela sociedade brasileira com direcionamentos distintos dos casos em que há a inviabilização do parto normal. É fundamental que haja uma reflexão, não somente financeira como também social e antropológica, a respeito dos desdobramentos que os partos tiveram no país. Para isso, é preciso que o Estado promova, através de campanhas e projetos, a desmistificação sobre as circunstâncias dos nascimentos, visando esclarecer as verdades acerca da cesárea, a sanção de leis que determinem a fiscalização e, um maior rigor na indicação dessa, respeitando a decisão das gestantes quanto a isso. As práticas médicas ensinadas nas faculdades e residências devem ser reavaliadas. Medidas direcionadas à mudanças de mentalidades e, à acepção de valores coerentes podem contribuir para que num futuro próximo o ciclo natural da vida não seja interrompido.