Título da redação:

Cicatrizes de um passado

Tema de redação: O ensino da história e cultura africana no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 01/07/2016

Desde o samba aos rituais religiosos do candomblé, a cultura de origem africana permeia a realidade do Brasil em todas as regiões e diz muito a respeito da participação negra na formação da identidade nacional brasileira. Porém, tal integração social não foi pacífica e ocorreu de forma marginalizada, deixando cicatrizes na sociedade brasileira atual, a qual ainda exterioriza preconceitos baseados em uma visão eurocêntrica em detrimento das expressões étnicas afro-brasileiras. A formação do Estado brasileiro coincidiu com o crescimento de uma elite agrária e escravista de raízes europeias. Sendo assim, a visão eurocêntrica de mundo inseria-se fortemente no cotidiano da população brasileira livre, tanto devido à participação da Igreja Católica desde o período colonial, quanto pelo Estado que atuava na repressão às manifestações culturais afro-brasileiras dos negros escravos, como foi na proibição da Capoeira durante todo o Império. Consequentemente, a marginalização do negro e de suas bases históricas e culturais foi um processo violento que aliou a situação de escravidão e eurocentrismo para cerceá-lo de suas origens. Já na sociedade atual, mesmo com a escravidão superada, nota-se outro problema da visão eurocêntrica, a ignorância em relação à história das sociedades africanas, pois enquanto que a maioria da população brasileira reconhece os processos históricos importantes da Europa pouco chega a ser ensinado a respeito da historiografia africana. Reinos e impérios grandiosos, como o de Mali, passam despercebidos nas redes de ensino, restando apenas a escravidão negra como a referência de um povo com um passado tão rico. Portanto, é necessário o reconhecimento da participação dos afrodescendentes como maneira de combater os preconceitos enraizados e de fortalecer a identidade nacional do país. Movimentos sociais que abordem a participação do negro na sociedade, além de sua história ancestral africana, devem ter espaços abertos para discussões e palestras nas instituições de ensino para que aconteça uma reforma essencial em relação às cicatrizes deixadas pelo passado brasileiro escravista e ignorante.