A crise política vivenciada pela Venezuela deu origem a um fenômeno de dispersão de seus cidadãos, vagando sem rumo em busca de melhores condições de vida, até à consequente chegada desses indivíduos ao território brasileiro, que reacendeu a discussão acerca da conjuntura dos refugiados no país. No entanto, embora o Brasil apresente condições supostamente favoráveis à residência desses indivíduos, em detrimento de possuir uma população composta pelas mais variadas etnias, juntamente com o apoio, por parte do governo, à política imigrante, os problemas de infraestrutura e o próprio comportamento da sociedade contribuem com a criação de um ambiente não tão receptivo a esses grupos. Sancionada pelo Congresso Nacional, em 2017, a Lei de Migração fundamenta-se como um grande marco na luta dos refugiados por um cenário de vida mais digno. Contudo, as cláusulas componentes da norma legislativa vigoram somente no papel, uma vez que diariamente surgem novas barreiras na vida desses indivíduos, por muitas vezes não possuírem laços com a língua portuguesa, juntamente com as dificuldades no acesso à saúde, educação e moradia. Outrossim, os refugiados enfrentam barreiras no aspecto social, haja vista que a sociedade contemporânea cria obstáculos no processo de acolhimento desses indivíduos. A hostilidade presente no corpo social brasileiro, como o caso do refugiado sírio testilhado por ambulantes nas ruas de Copacabana, em agosto de 2017, ratificam o estigma em torno dos imigrantes no geral, que são vistos, em termos biológicos, como populações exóticas, cujo único objetivo é defraudar o ambiente endêmico. Com o intuito de diminuir os empecilhos à sobrevivência dos refugiados no Brasil e consequentemente contemplar esse grupo com tópicos concordantes aos direitos humanos, faz-se primordial a função do governo federal em assegurar o direito dos imigrantes, conforme prevê a lei, por meio da disponibilização de cursos de língua portuguesa, simultaneamente à criação de planos de saúde e maior acesso à educação. Por fim, é necessária a elaboração de medidas paliativas visando à diminuição do preconceito e xenofobia, mediante informes publicitários e palestras no meio educativo, de maneira a explicitar à população as péssimas condições de que os refugiados se esquivam, para que, segundo os escritos da poetisa Cora Coralina, a sociedade possa levantar a bandeira que acolhe fraterna e amiga, o barco sem rumo.