Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: O drama de crianças desaparecidas no Brasil

Redação enviada em 08/08/2018

O filme ‘Calhambeque Mágico’, lançado em 1968, mostra um personagem sedutoramente caricato que apela aos infantes das redondezas proferindo um irresistível discurso: “Venham crianças, venham buscar deliciosos pirulitos!’. Inadvertidamente, dois irmãos, encantados pela oferta de guloseimas gratuitas- e alheios aos riscos da situação- acreditam no raptor disfarçado e são levados embora por ele. No Brasil, ao longo dos anos, o enredo acima deixou a ficção e se tornou uma brutal realidade: o maciço desaparecimento de crianças e adolescentes faz parte de uma dolorosa rotina na qual a ineficiência das ações de investigação e salvamento só faz piorar o sofrimento das famílias, pondo em risco o futuro de toda uma geração. Segundo dados do Fórum Nacional de Segurança Pública, a cada ano desaparecem, no Brasil, cerca de 50 mil crianças e jovens. De acordo com informações da Comissão Nacional de Direitos Humanos, as principais causas desses desaparecimentos figuram entre o tráfico humano, a venda de órgãos e a prostituição infantil. Em comum, todos esses motivos atingem, principalmente, famílias simples, vítimas da desigualdade, com poucos recursos e pífia representatividade social, o que dificulta sensivelmente a busca por justiça. Ademais, a violência urbana, as fragilidades fronteiriças e as falhas do sistema brasileiro de segurança pública são poderosos aliados aos raptores de crianças brasileiras. Por conta disso, e levando-se em conta o perfil das ameaças à infância, o trecho icônico de ‘Calhambeque Mágico’ auxilia os pais modernos a transmitirem a máxima ‘não aceite doces, dinheiro ou brinquedos de estranhos’ aos filhos de forma didática e impactante. Por sua vez, esse comando, característico e inerente ao cuidado parental, é revestido pelo mais legítimo senso de proteção e, provavelmente, acompanha a humanidade desde tempos imemoriais. Contudo, apesar dos esforços e cuidados da família, a desorganização da máquina pública e a desatualização das leis são empecilhos à prevenção e à solução da maioria dos desaparecimentos. Segundo denúncia da ONG ‘Mães da Sé’, no Brasil, não existe uma rede integrada de informações sobre desaparecidos, e os poucos sites que existem encontram-se incompletos, tornando-se obsoletos para a solução dos casos. Além disso, enraizou-se no país o mito de que o registro de desaparecimento somente poderia ser feito após 48 horas do ocorrido, diminuindo sensivelmente as chances de se encontrar a vítima, conforme protocolo do FBI. Por conseguinte, a conjuntura dos fatos obriga muitas famílias a iniciarem verdadeiras odisseias em busca de suas crianças desaparecidas. Assim sendo, a trajetória de vida das crianças desaparecidas assume, tristemente, o pretérito imperfeito como tempo verbal vigente. As mães, no entanto, conjugam a maternidade no tempo presente, pois persistem na busca por seus filhos, sempre motivadas pelo amor e pela esperança do retorno. Logicamente, essa discrepância entre realidade e expectativa causa angústia, dor e grande sofrimento. Logo, a fim de que se obtenha efetividade no combate ao desaparecimento infantojuvenil e nas ações de salvamento de desaparecidos, cabe ao Governo Federal investir recursos financeiros e logísticos para a criação de um Cadastro Nacional de Desaparecidos, no qual deverá ocorrer o cruzamento de dados oriundos de hospitais, abrigos, IML e delegacias de todo o território, objetivando, assim, a atualização constante das informações pertinentes à identificação e à busca de crianças desaparecidas. Por sua vez, o Ministério da Comunicação deverá atuar na ampla divulgação das informações sobre crianças desaparecidas por meio da realização de campanhas educacionais, buscando ampliar a conscientização da população sobre o assunto.