Título da redação:

Estados de poder

Tema de redação: O conflituoso consumo de drogas lícitas e ilícitas no Brasil

Redação enviada em 31/07/2017

O consumo de drogas ilícitas e lícitas apresenta intensa problematização devido à conjugação de suas consequências para a saúde dos usuários e para a sociedade em geral. Apesar de existirem vertentes de opiniões contrárias e favoráveis à legalização da venda dessas substâncias, é imprescindível analisar os diferentes conflitos oriundos desses mercados. Primeiramente, o consumo de drogas ilegais é duplamente deletério, haja vista que destrói a saúde física e mental dos dependentes e fortalece o poder paralelo dos traficantes. Embora o uso de entorpecentes seja histórico, como o ópio na Grécia antiga, o contexto atual mostra-se muito mais complexo no que tange à diversidade e ao poder de destruição das novas drogas, como a maconha, a cocaína, a heroína, o lsd e o crack. Nesse sentido, os usuários de drogas sustentam um lucrativo mercado ilegal, o qual, por sua vez, fomenta o tráfico de armas, a violência, a criminalidade e o embate entre traficantes e policiais, o que, comumente, gera vítimas inocentes. Ademais, a popularização dessas substâncias tem criado enormes redutos de viciados nas principais cidades brasileiras, conhecidos como cracolândias, as quais retratam o poderoso controle do tráfico, a insuficiência do Estado e o problema de saúde pública que as drogas representam. E a legalização desse mercado não resultaria em solução, pois iria fortalecer as FARC (Força Revolucionária Colombiana), grupo que controla a produção da maioria das drogas enviadas ao Brasil, e agravar o caos social pelo aumento do número de dependentes nas ruas, a exemplo do que ocorre na Holanda, onde o consumo foi liberado. Por outro lado, as drogas lícitas também prejudicam a saúde e geram consequências negativas na sociedade. Nesse âmbito, pode-se citar o álcool, o tabaco e uma vasta gama de medicamentos, como os soníferos, os emagrecedores, os estimulantes e os anabolizantes, todos causadores de dependência e efeitos colaterais perigosos em longo prazo. Dentre esses, destaca-se o álcool como aquele que mais reverbera negativamente na sociedade, uma vez que é responsável por grande parte das mortes por acidentes de trânsito. Não obstante, essas drogas não são criminalizadas, visto que a indústria farmacêutica e as empresas produtoras de bebidas alcoólicas e de cigarros faturam milhões de reais, gerando altas arrecadações tributárias para o governo e pagando muito bem por espaços publicitários nos meios de comunicação, sobretudo no caso dos comerciais de grandes cervejarias. Por conseguinte, fica claro que os pilares que mantêm o mercado das drogas e as consequências do consumo das mesmas são justamente os construtores desse cenário tão conflituoso. Para ajustá-lo, é necessário que o governo federal e o ministério da saúde sejam os agentes de algumas medidas, como: a implementação de uma lei que remova a publicidade de bebidas alcoólicas em todos os veículos de comunicação, analogamente ao que foi feito com o cigarro, a fim de reduzir a cultura do alcoolismo no Brasil, especialmente entre os jovens; a veiculação de campanhas midiáticas sobre os efeitos das drogas mostrando diferentes casos de usuários reais, que se recuperaram, que estão em recuperação, e até mesmo aqueles que vieram a óbito, visando conscientizar as pessoas sobre os riscos do vício; o oferecimento de tratamentos de desintoxicação gratuitos nos hospitais públicos do país, objetivando recuperar aqueles que já se tornaram dependentes; o fortalecimento da vigilância nas fronteiras, com o aumento dos contingentes do exército em locais estratégicos de entrada de drogas em território nacional, vislumbrando a redução da oferta dessas substâncias; e, por fim, o investimento em melhores armamentos e mais treinamentos para a polícia militar, a qual combate o tráfico diretamente nas comunidades em total desvantagem bélica, permitindo um maior número de prisões de traficantes e de eliminações de"bocas de fumo". Todas essas medidas compõem uma política de combate ostensivo às drogas, ao poder paralelo, e a todas as ressurgências sociais nocivas advindas dessa combinação. Afinal, os problemas permitidos pela ausência do Estado criam lacunas que são preenchidas por outras formas de poder e, por isso, só podem ser solucionados por esse mesmo Estado, em sua versão mais forte e presente.