É perceptível a existência de condições análogas ao escravismo, tendo em vista que o sistema colonial foi pautado nesta prática. Ainda que a abolição da escravidão tenha se efetivado em 1888 com a lei Áurea e as leis trabalhistas tenham surgido em 1930, tal prática perdurou até a atual conjuntura em razão da desigualdade social e baixa escolaridade em regiões rurais. Equivalente a este contexto advém diversos precedentes, estando entre eles a lucratividade desta mão de obra para os empregadores e a vulnerabilidade socioeconômica em que se encontra um segmento populacional, cuja maioria procede da região rural. Adere-se a estes caracteres ainda a aliciação de trabalhadores, que em sua maioria é composta por jovens-adultos do sexo masculino, com destino a regiões agrícolas em expansão que saem de seus territórios atraídos por falsas promessas ou pela própria situação de penúria em que se encontram. Além disso, também fornece subterfúgios ao quadro vigente o déficit no sistema educacional e judiciário. Segundo Paulo Freire, " Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda"; infere-se, portanto, a importância da mesma na obtenção de trabalhos de qualidade e valores atualmente ausentes naqueles que transgridam a dignidade humana. Outrossim, adiciona-se aos fatores aludidos elementos que corroboram para cercear o trabalhador, como retenção de salários ou documentos e isolamento geográfico, que fomenta a permanência do mesmo. De modo exposto, percebe-se que trabalhos análogos a escravidão carecem ser solucionados e tem bases antigas, mas que podem ser superadas. É mister, portanto, incentivar a permanência de crianças e adolescentes na escola, tendo em vista que esta é uma extensão do corpo social. Ademais, é imperioso oferecer assistência ao trabalhador liberto, que deve ser feita por meio de indenizações motivadas pelo Ministério Público do Trabalho e uma reforma agrária abrangente. Também é importante a veiculação de campanhas midiáticas objetivas, chocantes e extensiva para conscientizar, bem como palestras escolares para o mesmo fim. Dessa e de outras maneiras, podemos vencer o pessimismo machadiano de que o homem é um ser corrupto e corrompido no qual há quase uma ausência de princípios.