No ano de 1888 foi decretada a lei Áurea no Brasil. Em comparação com o resto do mundo, o fim da escravidão brasileira veio tardiamente, sendo impulsionada finalmente com a crise do império. Atualmente, no entanto, ainda é possível observar formas de exploração do trabalhador que se assemelham às daquela época. Nesse contexto, o senhor de engenho do passado é o mesmo do presente pois 74% dos casos atuais, análogos a escravidão, estão ligados à agricultura e à pecuária. A abolição da escravidão não foi uma medida planejada no Brasil. Subitamente, milhares de negros foram lançados no novo mercado de trabalho. Pessoas analfabetas, sem dinheiro e preparo, lamentavelmente, até então, não sabiam nenhuma outra tarefa além das que executavam para seus senhores. Dessa maneira, o cenário continuou o mesmo, sem condições de sustentar a si e sua família os ex-escravos permaneciam sofrendo com as antigas condições de trabalho. Eles continuavam a apanhar e morrer nas lavouras, mas de acordo com a lei, agora eram mão de obra assalariada. A herança do dia três de maio de 1888 pode ser observada até os dias de hoje. Contudo, agora não só com os negros. Mulatos, índios ou descendentes de imigrantes, o cidadão brasileiro desfavorecido contemporâneo é jogado no mercado de trabalho em condições semelhantes a de seus antepassados: semi-analfabeto, sem estudo e qualificação, e o agravante, sem o conhecimento das leis trabalhistas. Desse modo, o trabalhador é forçado a realizar tarefas exaustivas em jornadas degradantes, não sendo capaz de cobrar seus direitos devido a falta de conhecimento. Nessa perspectiva, fica claro que o problema da escravidão ainda não foi devidamente resolvido no Brasil. É preciso que o poder público ofereça ensino de qualidade para a população carente, como, faculdades e cursos técnicos, fornecendo mão de obra qualificada para o mercado de trabalho. É necessário que as escolas, principalmente das áreas rurais, ofereçam cursos para a comunidade sobre as leis trabalhistas. A formação de cidadãos qualificados e cientes de seus direitos é o primeiro passo para se acabar de vez com a herança da escravidão.