Motivado pelo lucro financeiro, o homem contemporâneo degrada a biosfera sem nenhum precedente. A comercialização ilícita de animais silvestres, no Brasil, é responsável pela movimentação de milhões de dólares nos mercados interno e externo e exerce significativa influência na extinção gradual de inúmeras espécies . Nesse contexto, cabe destacar a deturpação dos fatores normativos e comportamentais como elementos que colaboram para a intensidade dessa problemática brasileira nos dias de hoje. Inicialmente, é importante enfatizar que a aplicação de penas brandas não são suficientes para coibir a ação dos criminosos ambientais, uma vez que se baseiam em multas acessíveis e detenções com um curto prazo. Nesse sentido, de acordo com a teoria sociológica de Émile Durkheim, a anomia expressa a falha nas normas de conduta e figura-se como um processo dissociativo prejudicial ao funcionamento adequado da sociedade. Em analogia a tal termo, o tráfico de animais silvestres representa a relativização das regras e dos valores morais , consequentemente, tende a ser nocivo para o bem-estar da fauna e do ser humano tendo em vista as suas relações de interdependência. Além disso, impera no país a errônea crença de que as resoluções das atuais mazelas são responsabilidades únicas do Estado, fazendo-se prevalecer a conivência dos cidadãos frente à compra e venda de aves, mamíferos, répteis dentre outros gêneros ameaçados de extinção. Conforme afirmou Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra ‘’ Raízes do Brasil’’, armado desta máscara ( a cordialidade) o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. Seguindo essa análise, a omissão de denúncias contra aqueles que praticam o tráfico de animas figura-se como um processo característico dessa permissividade cordial criticada pelo historiador e tende a colaborar para a perpetuação desse problema. É notório, portanto, que o caótico quadro de contrabando de animais é inerente tanto ao papel do Estado quanto da sociedade civil organizada hodiernamente. Torna-se imprescindível a reformulação das leis ambientais no sentido de torná-las mais rígidas com a aplicação do regime fechado e longínquo para os infratores ambientais. Para isso, o governo em conjunto com o poder legislativo e executivo deve elaborar projetos penais atualizados sem brechas para a impunidade. Simultaneamente, é necessária a participação da população nas denúncias e na desaprovação da comercialização dos animais silvestres, a fim de garantir a descontinuidade de tal atividade. Diante de tais ajustes será mais fácil superar esse mal.