Título da redação:

O ovo

Tema de redação: O cenário da autonomia da mulher brasileira nos casos de interrupção da gestação.

Redação enviada em 08/06/2016

Como disse Clarice Lispector "O ovo não tem si-mesmo. Individualmente ele não existe."; e assim é um feto. Dependente de uma mãe que merece ter o direito de escolha com o seu corpo. Por isso, o retrocesso dessa sociedade machista e hipócrita precisa ser repensado. Durante toda a história, a Igreja Católica rotulou a mulher como "inferior" , deveria ser submissa ao homem e o aborto espontâneo como uma maldade moral, altamente condenado. Hoje, a mentalidade da Igreja não mudou, mas parece que os conceitos morais de seus "fiéis" sofreram algumas alterações: mais de metade das mulheres que cometem um aborto se declaram católicas, segundo dados da UnB e UERJ. No Brasil, a interrupção da gestação, sem causas cabíveis para o Estado, é crime e repreendido pela sociedade, mas uma adolescente, mãe solteira, pode ser julgada e rotulada como "perdida" e isso não é crime. Nem tudo o que é legal é justo. Uma lei injusta é uma forma de violência- diria Gandhi, e os que mais sofrem com leis injustas são os pobres. Pobres que precisam viver batalhando, sonhando com uma vida melhor, mas que têm seus desejos roubados por um descuido seguido de uma lei injusta. Eles são os mais prejudicados, pois médicos corruptos visam o lucro e não a humanidade na hora de fazer um aborto ilegal. A menina da periferia não pode, na maioria das vezes, submeter- se ao procedimento e quando são têm uma grande chance de pegar infecções e morrerem. Já a menina católica de classe média nasceu com sorte mesmo na ilegalidade, pois tem dinheiro para interromper sua gestação em lugares com melhores condições de higiene. O caminho para o progresso é a igualdade de gênero e o Estado laico total. E isso pode acontecer se pararmos de pensar como puristas. Campanhas de informação para o aborto deveriam ser empregadas depois da descriminalização de tal, aulas de sexualidade para adolescentes e pré-adolescentes devem ser intensificadas nas escolas e apoio psicológico gratuito à mulheres desde a infância. Torço para que no futuro as mulheres possam dizer: " eu sou dona de mim".