Coelhos modernos No famoso livro “Alice no País das Maravilhas”, do escritor Lewis Carroll, há um personagem que chama atenção pelo seu modo de agir: o apressado coelho que, usando paletó e um relógio de bolso, sempre afirma estar atrasado para seus “importantíssimos compromissos”. Tal como o animal presente na obra, um grande número de brasileiros têm feito, de suas metas e tarefas cotidianas, obrigações inadiáveis, exigindo de si mesmos resultados imediatos e, consequentemente, tornando-se propícios ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com a maior quantidade de indivíduos sofrendo de sintomas típicos de um quadro ansioso não apenas passageiro, mas que se estende por longos períodos. Tal fato deve-se, em parte, à enorme cobrança, principalmente entre jovens e adolescentes, quanto ao sucesso profissional. Estes, pretendendo ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais exigente, competitivo e excludente , têm posto sobre si a incumbência de alcançar, a qualquer custo e sem prezar pela sua saúde mental e física, os mais altos e bem remunerados cargos na sociedade. Assim sendo, a lógica capitalista de busca incessante busca pela ascensão econômica e social, explicitada pelo sociólogo Karl Marx na obra “O capital”, leva muitos brasileiros a prejudicar-se física e psicologicamente . Ademais, a máxima estabelecido no ditado popular “ Tempo é dinheiro” também pode ser aplicada para o achamento dos fatores propulsores de comportamentos ansiosos persistentes. Desse modo, vários indivíduos têm buscado atingir suas metas, seja de vida ou até mesmo do dia a dia, em um intervalo temporal extremamente curto e, consequentemente, sucumbem a preocupações excessivas e expectativas apreensivas. Assim, essas pessoas têm cometido o erro ao qual o filósofo Arthur Schopenhauer denominou de pior decisão humana: sacrificam sua saúde em troca de outas vantagens. Infere-se, portanto, que a preocupação demasiada com o sucesso profissional e a extrema cobrança acerca do aproveitamento máximo do tempo ocasionaram um significativo aumento no número de casos de transtorno de ansiedade. Logo, é essencial que as esferas municipal, estadual e federal de governo , por intermédio de seus respectivos órgãos responsáveis pelos quesitos de educação e saúde, venham a efetivar , em escolas e universidades, palestras em relação à importância do zelo por um estado psicoemocional estável e sobre meios de evitar e amenizar sentimentos de apreensão quanto ao futuro, visando, assim, tornar os indivíduos, ainda em fase estudantil, menos propícios ao desenvolvimento de quadros ansiosos. Outrossim, a contratação, por esses mesmos órgãos representantes do poder público, de psicólogos para atuação em instituições de ensino, desde o nível fundamental até o superior, se faz fundamental para fornecimento de um suporte psicológico aos alunos e consequente diminuição da quantidade de portadores de transtornos de ansiedade.