Buscapé e Zé Pequeno; pobres, negros e imersos no mesmo contexto de violência e negligência pública. Porém, embora essas semelhanças, o primeiro tornou-se fotógrafo e o segundo um criminoso assassinado logo em sua juventude. A trama “Cidade de Deus”, de 2002, mostrou que, apesar de existirem “Buscapés”, a sina que se desenha para a maioria dos jovens envoltos pela vulnerabilidade pode ser muito trágica. Entretanto, essa sina parece estar se refletindo no expressivo aumento de homicídios da parcela jovem da população brasileira. Com isso, surge a necessidade de entender essa problemática a fim de superá-la. A princípio, é imperativo sobrelevar que um dos fatores impulsionadores desse problema consiste numa postura inoperante e negligente do Governo diante da realidade de muitos cidadãos do país. Isso porque é indubitável que aspectos como educação, cursos de qualificação, subsídios financeiros e segurança pública são determinantes para o saudável desenvolvimento de qualquer humano em situação de inseguridade. No entanto, os governantes pouco tem se engajado em serviços que diminuam a, já acentuada, desigualdade social. Prova disso é que, segundo o IBGE, nas favelas brasileiras, apenas 1,6% da população possui curso superior completo e somente 58% dos moradores possuem carteira assinada. Com efeito, fomenta-se a formação de pessoas com um perfil facilmente seduzido pela criminalidade. Nesse sentido, muitos indivíduos, desqualificados pelas altas cobranças do mercado e desejosos por ascender socialmente, iniciam a vida no crime, o que explica parte dos homicídios da juventude nacional. Nesse prisma, considerando a defasagem do sistema público de segurança, cria-se uma atmosfera favorável à violência urbana, a qual por estar relacionada principalmente a conflito entre facções, tráfico de drogas e confrontos diretos com a polícia, torna-se a grande causadora das mortes. Uma ilustração disso é que, conforme uma pesquisa realizada pela USP, em 2017, metade dos homicídios de menores, na região periférica de São Paulo, estavam associados ao comércio ilegal de entorpecentes. Desse modo, demanda-se certa urgência na adoção de medidas que trabalhem essa intempérie e seus efeitos. Urge, portanto, que o Governo Federal mobilize forças com o objetivo de impedir a perpetuação da “Cidade de Deus” em território verde e amarelo. Para isso, cabe ao MEC, em parceria com as Secretarias de Assistência Social, a criação de um programa nacional de educação intensiva voltado à população mais carente, o qual deve ocorrer semanalmente em salas cedidas pelas escolas locais. Nesse projeto, devem ser oferecidos variados cursos profissionalizantes e incentivos financeiros para os participantes com o fito de criar mais oportunidades a grupos mais suscetíveis. Ademais, concerne aos Governos Estaduais investirem na segurança pública de seus municípios por meio de policiamento maior e rotas frequentes nas ruas com o objetivo de mitigar a violência urbana. Assim, mais histórias como a de Buscapé se tornarão possíveis e reais.