Título da redação:

Felicidade aristotélica

Tema de redação: O aumento da expectativa de vida como desafio no Brasil

Redação enviada em 02/07/2017

No filme “Click”, o personagem Michael, visando ascender na carreira profissional e tornar-se feliz, ganha a possibilidade de acelerar o tempo; mas acaba por entrar em modo automático e chamar seu pai, que lhe queria contar uma história de infância, de estúpido. Distante da ficção, na sociedade brasileira, frente ao aumento da expectativa de vida, o filme pode ser comparado à atual situação do idoso, considerado desinteressante pela família e, além disso, mal assistido por políticas públicas. Com efeito, um diálogo entre sociedade e Estado sobre como reverter tais quadros, é medida que se impõem. Em coadunação com o sociólogo Zygmunt Bauman, o individualismo – arraigado à sociedade e maior desafio pós-moderno - exibe sujeitos que buscam superar uns aos outros, sobretudo, financeiramente. Esse contexto de supervalorização dos detentores da força de trabalho, acaba por criar uma cultura que estigmatiza o idoso como incapaz e, logo, o exclui socialmente. Quando, contudo, essa ideologia ganha sustentação no seio familiar, o senil é novamente isolado. A consequência disso é que, devido à internalização do sentimento de inferioridade, paulatinamente há um aumento dos quadros de depressão nessa classe. Ademais, essa cultura de trabalho e força mostra-se prejudicial não apenas psicologicamente, mas também em termos logísticos e infraestruturais. Nesse ponto, mesmo diante de pesquisas, da década de 90, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil pouco se preparou para atender ao crescente contingente de idosos e inseri-los dignamente na sociedade. Exemplo disso é a falta de banheiros e calçadas adaptados. Além dos impasses estruturais, a insuficiente moção estatal gera, atualmente, imbróglios de caráter operacional, na medida em que o aumento da longevidade se relaciona diretamente com a atrofia do sistema previdenciário. Desse modo, à guisa de políticas de revitalização da previdência, é provável que esta entre em colapso, uma vez que, conforme o IBGE, em 2030 existirão mais idosos que jovens. Urge, dessa forma, que ONG’s tanto realizem um trabalho, por meio de mídias digitais, que enfatizem a importância da inclusão, quanto tentem promover o valor do idoso perante os jovens por meio de projetos que proporcionem encontros entre eles na forma de rodas de conversa, nas quais os mais experientes compartilham histórias sobre os percalços da vida. Em seguida, cabe ao Ministério das Cidades a democratização do espaço urbano com o fito de incluir o senil. Por fim, a sociedade civil precisa mobilizar um debate na Câmara dos Deputados sobre a reforma previdenciária, a fim de que seja criado um plano de revitalização da previdência. Com esse auxílio será possível retirar o indivíduo do automático e, ao contrário de Michael, fazê-lo alcançar a felicidade aristotélica, que apenas considera as riquezas espirituais: abundante nos mais velhos.