Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: atualmente, jovens estão imergindo cada vez mais cedo para a criminalidade. Reverter esse quadro sem a necessidade de redução da maioridade penal – eis a missão de um país que prefere punir ao invés de instruir. É válido considerar, antes de tudo, o déficit na educação brasileira. O aumento de crianças infratoras, esta diretamente ligado ao baixo nível escolar das mesmas - a falta de estrutura, segurança e despreparo de alguns profissionais da educação - sao significativos nas taxas de abandono escolar, deixando-as mais suscetíveis ao mundo de violência. De acordo com o Ipea, para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma redução de 2% na taxa de pessoas assassinadas nos municípios brasileiros, ratificando a necessidade de melhorar a qualidade do ensino no país. Cabe apontar também o papel da família e do Estado nesse processo. A falta de estrutura familiar, ausência de um projeto de vida, somados a insuficiência das políticas públicas que combatam a desigualdade social e a péssima estrutura de reuperação da juventude brasileira. São os principais fatores apontados por especialistas como motivadores para o envolvimento de adolescentes com o crime. Pitágoras afirmava que " ao educar os jovens, não seria necessário castigar os homens", mas nota-se que o Brasil além de não educar, está castigando o "homem" cada vez mais cedo, sem dar a esse uma alternativa a vida criminosa. Fica evidente, portanto, que é necessário investir na educação e na estrutura famíliar dos jovens, sem que haja a necessidade retrógrada de redução da maioridade penal. Para isso, o Ministério da Educação junto ao Ministério de Desenvolvimento devem investir na qualidade do ensino, estrutura e capacitação dos seus profissionais. As escolas devem inserir as famílias em projetos educacionais além sala de aula - como palestras, atividades interdisciplinares e até profissionalizantes - ONG's educacionais podem cooperar nesse processo. Há também a necessidade de reorganizar o sistema de recuperação juvenil pelos Estados jontos ao ECA, a fim de forncer aos delinquentes juvenis uma instituição de reclusão que seja eficaz na recolocação social dos mesmos, através de educação principalmente voltada para o mercado de trabalho. Assim, poderemos, aos poucos, abrir as cortinas do mundo para nossas crianças, de modo que possam vir a se tornar cidadãos conscientes no futuro – e um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.