“Olho por olho, dente por dente”. Era esse o artigo único da Magna Carta dos povos primitivos. Sangue era pago com sangue, e o conceito de justiça inevitavelmente estava atrelado ao de vingança. Muitos séculos se passaram e, não obstante, esse pensamento não se perdeu por completo. A prática da justiça com as próprias mãos corresponde a uma grave questão na sociedade brasileira do século XXI. De acordo com o sociólogo contratualista John Locke, o homem é naturalmente violento, e o estabelecimento do pacto social é necessário para a manutenção da ordem e da segurança. No entanto, observa-se, na sociedade brasileira, uma descrença no funcionamento adequado desse contrato. Assim, em contraposição a um sistema penal ineficiente, ações ilegais objetivando justiça têm se tornado frequentes. Outrossim, com o aumento do número desses casos, cresce também a defesa do autoritarismo como forma de resolução de problemas. Nesse contexto, movimentos militares e ditatoriais fortalecem-se, devido ao descrédito dos indivíduos para com as instituições públicas. Dessa forma, vê-se que a justiça com as próprias mãos corresponde a uma questão cujas proporções extrapolam os “justiceiros”, e está relacionada à uma mentalidade de autoridade e superioridade. É imperioso, portanto, que o governo resgate a sua legitimidade, diminuindo a criminalidade e a impunidade, através de maiores investimentos destinados à polícia e à infraestrutura de segurança. Também é fundamental que sejam feitas reformas no sistema judiciário, de forma a deixá-lo mais eficiente. Paralelamente, é papel das famílias e da escola formar jovens que acreditem no poder das instituições vigentes e nas formas legais de exercício da justiça. Assim, espera-se que a sociedade permanece desenvolvendo-se e evoluindo, ao invés de regredir em direção às suas primitivas origens.