Título da redação:

Voltar ao todo. Especializar na fala.

Tema de redação: Humanização no Atendimento à Saúde.

Redação enviada em 25/09/2017

Ao surgir, baseada nos princípios da simpatia e do querer ajudar o próximo, a medicina contribuiu para o aumento da expectativa de vida humana, cresceu e cativou a sociedade. A figura do médico, por exemplo, até o início do século XX era tida como um amigo da família, que realizava consultas nas residências e acompanhava diversas gerações da mesma. No entanto, com a mudança das práticas médicas e a praticidade oferecida pela tecnologia, a relação médico-paciente tornou-se superficial e distante, o que reflete em pontos negativos no exercício da medicina. Em 1910, quando Abraham Flexner criou a residência médica, a relação médico-paciente sofreu alterações. Não seria mais desejável que um só médico generalista cuidasse do núcleo familiar, uma vez que um especialista era cercado por técnicas e medicamentos específicos para determinado órgão. Da mesma forma, o profissional passou, também, a voltar suas atenções para a doença em questão, e a limitar o contato como paciente. Como resultado, a anamnese, responsável por 70% do diagnóstico, tornou-se uma prática negligenciada com frequência. Sem a conversa no consultório, a relação médico-paciente se distancia, o que dificulta a detecção de problemas, especialmente em casos de doenças do trato psíquico, a exemplo da Síndrome do Pânico, na qual há sintomas físicos, mas não apresenta anormalidade nos exames clínicos. Acrescenta-se ainda que, segundo o psicanalista Cyro Martins, a estrutura fundamental da prática médica é dada a partir do médico e suas habilidades em contato com o paciente. No entanto, ao oferecer velocidade e objetividade na busca pelo diagnóstico, a tecnologia, instrumento revolucionário na medicina, fez com que muitos profissionais da área deixassem de avaliar a situação geral do paciente no que diz respeito a suas crenças, estilo de vida e contexto socioeconômico. Desse modo, a escolha do tratamento pode ser prejudicada, uma vez que o compromisso do enfermo com ele não seria garantido e poderia provocar uma piora no quadro clínico a exemplo de receitar um medicamento de alto custo sem inteirar-se de que a compra seria possível. Diante da necessidade da reconstrução de uma medicina mais humanitária, o Conselho Federal de Medicina, através da faculdades de medicina, deveria desenvolver eventos, como palestras e oficinas, e disciplinas específicas no curso, com foco em como tratar o ser humano enquanto paciente, no momento de doença e insegurança, para que haja, assim, a confiança e a possibilidade de uma boa anamnese e, consequentemente, um melhor diagnóstico acompanhado da escolha do tratamento mais adequado. Destarte, a figura do médico poderá voltar a ocupar um lugar de afeto e carinho na vida daqueles os quais trata.