O Brasil produz lixo como um país de primeiro mundo, mas ainda sustenta um padrão de descarte semelhante ao das nações mais pobres. Isso significa dizer que, além do envio maciço dos resíduos para lixões a céu aberto, há pouca reciclagem. Nesse sentido, a má gestão dos rejeitos associada ao baixo investimento em limpeza pública é responsável por catástrofes ambientais e urbanas, cada vez mais presentes no cotidiano das cidades brasileiras. Segundo dados da Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública), todos os anos são produzidas no Brasil cerca de 70 milhões de toneladas de lixo, das quais apenas 40% recebem a destinação adequada. Enquanto isso, os 60% restantes são encaminhados para lixões a céu aberto, presentes em 30% dos municípios brasileiros, e cujo chorume contamina lençóis freáticos, exala mau cheiro e atrai vetores. Dessa forma, o destino inadequado dos resíduos causa danos consideráveis na qualidade de vida da população, uma vez que a presença do lixo nos ambientes de convivência resulta na disseminação de doenças infectocontagiosas e na presença de animais como ratos, escorpiões e insetos, além de promover a depreciação da cidade. Já no cenário ambiental, a presença do lixo, em especial o plástico, provoca não só o entupimento de bueiros e bocas de lobo, mas também a morte de diversos animais. De acordo com pesquisa do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), apenas 20% dos materiais recicláveis são reaproveitados no país, o que escancara o atraso nacional no que tange à gestão dos resíduos sólidos. Consequentemente, a presença do plástico no ambiente, associada à falta de limpeza pública regular, potencializa a ocorrência de inundações como as que afligem o Rio de Janeiro, provocando perdas econômicas e sociais severas. Além disso, os resíduos acumulados nas enchentes são levados para os corpos d’água, onde irão afetar de forma severa o equilíbrio dos ecossistemas. A prova disso são os recentes casos de cachalotes encontrados mortos devido à presença de cerca de 30 quilos de plástico em seus estômagos. Mediante a gravidade do assunto, mostra-se urgente a necessidade de maiores e mais efetivos investimentos por parte do Estado e da comunidade na gestão dos resíduos. Por sua vez, o Governo Federal deverá proporcionar recursos financeiros e humanos suficientes para assegurar a implementação do programa nacional de gestão de resíduos, a fim de garantir a coleta e a destinação adequadas do lixo, impedindo a ocorrência dos danos causados pela presença dos rejeitos no ambiente. Em contrapartida, caberá às comunidades promover o descarte seletivo dos resíduos, colaborando efetivamente para o bem-estar comum e a preservação do meio ambiente.