Título da redação:

Esporte: ética e sociedade

Tema de redação: Esporte no Brasil: ferramenta de inclusão social ou meritocracia excludente?

Redação enviada em 14/07/2017

Jogos Pan-americanos de 2007, Campeonato Mundial de Judô em 2013, Copa do Mundo de 2014: nos últimos anos, a sociedade brasileira e, em particular, a cidade do Rio de Janeiro tem vivenciado intensamente a experiência do esporte. As Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016 serão, neste sentido, a cereja do bolo, mas não se pode de modo algum reduzir a prática esportiva a esses megaeventos. De fato, mais do que atividade de competidores célebres ou negócio que envolve milhões, o esporte é, em si mesmo, um poderoso meio de inclusão social, capaz de transformar vidas. De modo geral, tal poder transformador do esporte pode ser visualizado sob dois aspectos: no seu papel na formação ética dos indivíduos e no seu caráter socializador. Em primeiro lugar, o esporte tem um enorme potencial para a transmissão de valores e normas de conduta sadios. Com efeito, tal como qualquer atividade com objetivos claros e determinados, a prática esportiva exige ordem, disciplina, paciência, coragem, perseverança, etc. Isto é, há uma série de virtudes éticas que são pressupostas no esporte e que por isso mesmo são desenvolvidas naqueles que se põem a praticá-lo. A prática constante da atividade física desenvolve ainda mais estas habilidades éticas, visto que a virtude, conforme ensinava Aristóteles, não consiste em um ato de bondade isolado, mas sim na prática habitual do bem. Por outro lado, não se pode ignorar o papel inestimável do desporto no processo de socialização. Com efeito, como dizia o mesmo Aristóteles, o homem é naturalmente um ser social e político, isto é, engajar-se na vida social não é um aspecto secundário da existência humana, mas lhe é, ao contrário, algo constitutivo. Assim, o processo de socialização, de integração do indivíduo no interior da sociedade, não pode ser subestimado – e o desporto pode ter papel essencial nisso. Na verdade, a atividade esportiva produz, invariavelmente, uma comunidade de pessoas, uma integração entre os diferentes, afinal, mesmo o esporte mais solitário, implica algum tipo de cooperação e aprendizado mútuo. Não se pode, por exemplo, iniciar a prática de uma modalidade esportiva, sem a orientação de outra pessoa que já a domine de algum modo. De acordo com tudo o que foi visto acima, não é difícil perceber que o esporte tem uma importância decisiva precisamente naqueles campos em que isto lhe é menos reconhecido: a transmissão dos valores éticos e a integração social. Garantir, no entanto, que esta ferramenta de inclusão social se torne realmente efetiva em nosso país passa por mudanças importantes na política de educação. Em particular, passa por uma mudança clara na perspectiva do governo a respeito da disciplina de educação física, em que ela não seja mais vista como mero meio de recreação, mas sim como um ponto-chave das políticas de ação social. O educador físico, essencial para o fortalecimento ético e social do alunado, deve ser agente central na vida escolar, conduzindo projetos, articulando iniciativas, congregando partes. Sãos os desafios que temos a enfrentar.