Título da redação:

Neutralidade Subjetiva

Tema de redação: "Escola Sem Partido" e os rumos da educação no Brasil

Redação enviada em 02/10/2016

A escola sempre serviu como base para a construção intelectual do indivíduo. O contato com diferentes informações, opiniões e perspectivas, contribui para a socialização e para a construção ideológica de cada cidadão. Entretanto, desde 2004, tem-se em pauta discussões acerca da proibição da expressão subjetiva do professor em sala de aula, a fim de que cessem as manifestações de opinião dos docentes acerca de questões políticas, de gênero, e de demais assuntos polêmicos, através do PL 867/2015 (Escola sem Partido). Hobbes afirmou, com o jusnaturalismo, que o ser humano nasce com direitos naturais, inatos, tais quais a liberdade de expressão. Deve-se analisar até que ponto as medidas propostas privam os indivíduos de tais direitos e servem como eufemismos para problemas políticos enfrentados no cenário vigente. Desde seu nascimento o ser humano é formado através das instituições de socialização, sendo as primárias a escola e a família. John Locke definiu cada indivíduo como uma "tábula rasa", preenchida pelas experiências ao logo da vida; teoria que pode ser relacionada à educação. O fator determinante para a formação de indivíduos críticos, com opiniões bem formadas de acordo com o próprio ponto de vista se dá por meio do contato com diferentes perspectivas. Desta forma, a escola se apresenta como principal ferramenta para tal formação, sendo utópica a sua aproximação à neutralidade, já que qualquer tema abordado em sala leva um juízo de valor do professor, sem imposições ou desrespeito a opiniões já formadas. Por outro lado, cabe analisar a contradição política envolvida na proposta. Com o avanço da indústria cultural, os cidadãos têm exercido cada vez menos sua cidadania, deixando-se corromper pela alienação. Partidos políticos se aproveitam da situação, tendo em vista a ignorância política e as opiniões rasas dos indivíduos. Segundo dados, atualmente, o Brasil apresenta uma média de 22% de jovens que não sabem ler, e 37% que não sabem escrever. São lamentáveis e visíveis as distorções do debate político atual, que ao invés de focalizar seus esforços nas questões verdadeiramente educacionais, tem desviado a atenção para a criminalização do ensino, com o objetivo de transformar as escolas em verdadeiros tribunais pedagógicos, instalando uma censura sem fundamentos condizentes com as necessidades naturais de cada cidadão como integrante do corpo público e político. Deve-se tornar acessível o entendimento da pluralidade de ideias como fundamental para o desenvolvimento do conhecimento. Desta forma, como uma solução a longo prazo, tem-se a necessidade da desconstrução e quebra de paradigmas sociais e culturais envolvendo os temas que a neutralidade pretende ocultar, a fim de acabar com os tabus que os cercam. Essa quebra se dá por meio da instrução familiar e, dada as condições da sociedade contemporânea, pelo bom uso dos veículos de massa e da indústria cultural. Para o momento, deve-se movimentar a população para que reivindiquem seus direitos naturais, através de manifestações pacíficas e organizadas, por parte de professores, alunos e todos os integrantes dos diferentes segmentos sociais, a fim de garantir que a referida "neutralidade" (de cunho político) não instaure uma ditadura fantasiada de democracia.