Título da redação:

Ainda longe da Utopia

Tema de redação: "Escola Sem Partido" e os rumos da educação no Brasil

Redação enviada em 11/06/2016

500 anos após a publicação do livro Utopia, de Thomas Morus, é clarividente a distante da sociedade imaginária e a atual brasileira. Os projetos relacionados a “Escola sem Partido” são uma demonstração do retrocesso no âmbito educacional, que, se aplicados, guinarão o ensino para um viés positivista, desconexo da pluralidade de pensamentos e culturas nacionais, além de desqualificar, ainda mais, um profissional de fundamental importância, o professor. Aristóteles dizia que o homem é um “animal político”; Karl Marx, que toda ação é política. Charles Baudalaire, poeta simbolista francês, vai mais longe e afirma: todo pensamento é político. Destarte, percebe-se o sofisma no projeto que tenta retirar, supostamente, toda ideologia da sala de aula. Na verdade, o que é pretendido é tirar o pensamento progressista que professores possam ter, bem como diálogos que possam levar os alunos a questionarem máximas ditas pelos pais. Toda essa censura se encaixa em uma reação conservadora que, paradoxalmente, considera como doutrinação o diálogo e o conhecimento de pensamentos convergentes e não os pensamentos padronizados, únicos, irrefutáveis, de certos pais. A conotação antidemocrática e de censura do projeto é ratificado pelo fato desse já estar em vigor em certas áreas do nordeste, onde ainda há uma forte presença política de uma elite latifundiária conservadora. Concomitantemente a isso, a “Escola sem Partido” vai de encontro também com a construção de uma base escolar mais antenada com a atual juventude, com seus anseios e suas necessidades. Por exemplo, fala-se muito hoje de uma geografia crítica, que antagoniza com a matéria que outrora era utilizada para se decorar os afluentes do Rio Amazonas, sem nenhuma utilidade prática. Hoje, essa disciplina concilia o conceito com sua aplicação, participando ativamente na formação cidadã dos jovens. É uma medida retrógrada querer voltar a este estágio anterior da educação, indo contra as diretrizes da educação moderna em nível mundial, desconsiderando a necessidade de diálogo, de aprendizagem ativa, de ser atrativa em meio a tantas distrações em uma sociedade moderna. Além do mais, o projeto, ainda que de forma não proposital, acaba por promover a desvalorização do professor, construindo um “tipo social” para ele que é o de um ser doutrinador por natureza, que corrompe a juventude dizendo mentiras, de forma análoga à estereotipação do comunista no período de guerra fria. Depreende-se, portanto, que os rumos da educação brasileira devam passar não pela censura, mas pelo diálogo, pelo livre arbítrio de pensamento, desde que esse não fira a liberdade alheia. Cabe ao Ministério da Educação (MEC) apurar as denúncias de doutrinação, distinguindo-as de casos em que houve apenas expressão de opiniões contrárias ao do denunciador. É, também, prudente que se trabalhe ainda mais com a aprendizagem crítica e ativa, estimulando os alunos a questionarem tudo o que ouvem e leem, de modo a estarem menos expostos a uma possível, mas não provável, massificação de opinião.