Devido ao seu desenvolvimento histórico, o Brasil caracterizou-se, desde início, como um país de grande pluralidade religiosa. Apesar disso, as matrizes do diverso espectro de crença nacional sempre conviveram desarmonicamente em um processo pautado pela imposição e pelo preconceito. Hodiernamente, perpetua-se essa nociva intolerância pela continuidade da retrógrada cultura discriminatória em consonância com a negligência estatal em lidar rigorosamente com esse impasse, sendo verificados, anualmente, dezenas de casos de violência contra certas práticas religiosas e seus adeptos. Sob essa ótica, é notório o início do preconceito religioso brasileiro já no período colonial com a chegada dos padres jesuítas, os quais submetiam, de princípio, a crença indígena e, posteriormente, a fé africana aos desmandos católicos - vistos pelos aspectos etnocêntricos do colonizador como uma árdua missão necessária à libertação desses povos de suas crenças ilusórias e diabólicas. Nessa perspectiva, apesar do sincretismo cultural - responsável por moldar os credos nacionais em uma gama de interinfluências -, semelhante ideologia nefasta é perpetuada, atualmente, por meio de ignorantes fiéis de matrizes tradicionais que pregam o desrespeito, ferindo o artigo 18 dos Direitos Humanos. Outrossim, convém atentar ao fraco papel histórico do Estado no combate a essa intolerância, pois o governo brasileiro sempre adotou uma postura restritiva cristã não só ao impedir ou coibir outras manifestações religiosas, como na Constituição do império, a qual delegava a liberdade de fé, desde que velada a sua residência, mas também em declarar apenas na república a laicidade e o livre credo. Nesse sentido, embora legalmente estes valores tenham historicamente sido conquistados, observa-se, ainda hoje, uma realidade adversa em vista da manutenção anual dos casos de preconceito de crença, o que evidencia a ineficiência das ações estatais no combate a esse grave crime de ódio o qual fere a liberdade e a dignidade humana. É necessário, portanto, que o Ministério dos Direitos Humanos viabilize junto ao Congresso uma legislação mais punitiva sobre esse delito com o intuito de aumentar as denúncias e coibir os agressores. Em adição, as escolas devem ministrar palestras e aulas de sociologia e artes voltadas para importância do respeito à diversidade de crença, inibindo a prática da intolerância pela falta de educação e ignorância quanto ao tema. Dessa forma, será suprimido o preconceito histórico contra as religiosidades e se perpetuará a valorização da pluralidade cultural brasileira. obs: o texto foi escrito no word