Um dos temas de maior destaque no ano corrente é a identidade de gênero, que ainda causa muitas dúvidas na população, tendo em vista a contemporaneidade do assunto. Dentre os erros mais comuns está a confusão com o tema da orientação sexual. Enquanto este corresponde à atração sexual entre pessoas - seja do mesmo sexo ou não - aquele diz respeito à percepção pessoal sobre a própria identidade e a identificação com os parâmetros de gênero socialmente atribuídos. Em virtude do desconhecimento e da falta de informação, percebe-se a crescente violência praticada contra os transgêneros, ensejando a urgência de se colocar o assunto em debate na sociedade. Em consoante com a famosa citação de Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se”, pode-se visualizar o poder coercitivo da sociedade sobre as pessoas para viver o gênero que lhes é imposto, já no momento do nascimento, quando os pais definem as cores: para meninos, azul; para meninas, rosa. Ao impor um parâmetro de gênero desde a infância, potencializa-se o sofrimento daqueles que não se identificam com a forma como se comportam na sociedade, pois muitas serão as barreiras a serem superadas na desconstrução de uma personalidade não condizente com sua realidade interior. Ademais, não bastassem as dúvidas internas, os transgêneros devem enfrentar o preconceito das pessoas que não respeitam a diversidade humana. Alguns, inclusive, praticam ofensas, agressões e até assassinatos movidos pela transfobia: ódio contra o que não conseguem entender. Saliente-se ainda que toda essa situação é concomitante a terapias hormonais e psiquiátricas, num longo e sofrido processo de transição entre gêneros. Nesse cenário de sofrimento e exclusão, é urgente a instauração de políticas afirmativas por parte do Poder Público para inserir os transgêneros na sociedade, buscando conscientização e consequente redução da violência. Uma das iniciativas possíveis para o Legislativo, que já contribuiria de forma massiva à inclusão, é a aprovação do PL 5002/2013, conhecido como Lei João Nery, cujo objetivo é facilitar a retificação da documentação por meio da autodefinição. A mídia já vem colaborando com o tema, ao abrir espaço para talentos como Pabllo Vittar – famosa estrela cantora drag queen – ou personagens transgêneros em novelas, como o Ivan, de “A Força do Querer”. A introdução dos transgêneros na cultura facilita o entendimento dos mais conservadores e resistentes à mudança. Igualmente necessária é a inclusão do tema diversidade de gênero nas escolas, pois ao se ensinar aos jovens desde cedo sobre a naturalidade do assunto, desenvolver-se-á uma geração mais receptiva às mudanças e também mais respeitadora.