Uma das maiores incoerências da humanidade é o desperdício de alimentos frente à fome no mundo. No Brasil, cerca de 30% de toda produção agrícola acaba no lixo, por outro lado, há cerca de 13 milhões de brasileiros com fome ou subnutridos, segundo o relatório de Estado da Insegurança Alimentar no Mundo. Esse alto percentual de desperdício, muitas vezes, é fruto de uma cultura despreocupada que conta com a abundância de recursos. Diante da riqueza brasileira, quando se trata de recursos, a relevância do tema é ofuscada. A vocação agrícola do Brasil sempre esteve explícita: as grandes reservas aquíferas, os diferentes tipos de solo, a insolação tropical – juntos, agregam grande capacidade produtiva à nação. Por conseguinte, o prejuízo advindo do desperdício é menos penoso à cadeia produtiva. Ao longo de décadas, tais práticas tornam-se hábitos, contribuindo para uma cultura de desperdício. Em consonância, a segmentação da produção e distribuição de alimentos dificultam a visualização da imensidão do desperdício. Na agricultura moderna, a cadeia produtiva é bastante segmentada, de forma que cada etapa acaba levando consigo uma parte da produção. Quando visualizado separadamente, não faz vista ao desperdício contabilizado de todas as etapas, em contrapartida com as consequências, que advém da totalidade da situação. O encarecimento de alimentos, a mão de obra desperdiçada, o aumento da emissão de poluentes e principalmente a fome, pintam um grave quadro de consequências. O combate ao desperdício de alimentos, portanto, apresenta-se como imprescindível à erradicação da fome e da subnutrição. As ONGs tem papel fundamental na denúncia das práticas negligentes das empresas, as quais devem pagar multas quando o cerne do problema é irresponsabilidade empresarial. O Governo, por sua vez, deve incentivar a agricultura familiar que por participar diretamente da produção à venda desperdiça menos alimentos. A tecnologia tem muito a contribuir, como a irradiação de hortifrutigranjeiros que aumenta sua vida útil. De maneira mais simples, os comerciantes podem doar alimentos em bom estado antes que sejam jogados fora. Dessa forma, o desperdício poderá ser reduzido, bem com a fome de milhões de pessoas.