Título da redação:

Desequilíbrio patológico

Tema de redação: ENEM 2017 - Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil

Redação enviada em 18/12/2017

Segundo o sociólogo Émile Durkheim, a humanidade configura-de como um imenso corpo biológico, o qual necessita da interação de todos os órgãos para o devido funcionamento. Nesse sentido, a permanência de atos e de valores reificantes dos deficientes auditivos - com a sua progressiva inferiorização nos espaços de convívio - fere preceitos éticos e morais de organização social. Dessa forma, a concisa e igualitária formação dos surdos reflete um cenário desafiador, seja devido à parca infraestrutura, seja a partir da perpetuação de estigmas sociais quanto à incapacidade de encaixe no coletivo brasileiro. Embora as demandas educacionais dos surdos sejam garantidas constitucionalmente, sua efetivação esbarra nos déficits de abrangência e de aplicabilidade dos investimentos governamentais e privados. De acordo com Pierre Bourdieu, a violência simbólica é o instrumento utilizado pelas classes dominantes para perpetuar as disparidades sociais e a sua permanência no poder. Sob tal ótica, infere-se que a aplicação de recursos de maneira desigual e até mesmo fraudulenta, direcionados majoritariamente aos centros de poder político-econômico, atuam como fator primordial à periferização social dos deficientes auditivos, ao passo que privam-lhes dos requisitos educacionais necessários. Em face de tal disposição, esses indivíduos - em especial aqueles que habitam regiões interioranas - são relegados a um sistema educativo-laboral precário e inoperante. Desse modo, devido à falta de material técnico é humano habilitado, os surdos são progressivamente excluídos, impedindo o funcionamento integral do corpo biológico durkheimeano. Ademais, ainda que os subsídios estruturais sejam promovidos, a difusão desregrada de preconceitos quanto à sua capacidade participativa impede patologicamente os surdos de serem incluídos no meio educacional. Conforme afirmara Francis Bacon, os ídolos da tribo são falsas verdades, cômodas e inquestionáveis, difundidas amplamente pela comunidade. Nessa perspectiva, há o processo de padronização coletiva, o qual, seguindo os preceitos do fato social de Durkheim - maneiras coletivas de pensar, de sentir e de agir, dotadas de coerção e exteriores ao indivíduo - propaga-se no corpo estudantil em face das parcas assistência e integração escolar-parental na formação cidadã. Assim sendo, nota-se que estereótipos relativos aos deficientes auditivos - tais como a incapacidade e a inferioridade - crescem em aspectos qualitativos e quantitativos, amplificando a subsequente rejeição às diferenças. Dessa maneira, ao subjugar e excluir esses cidadãos, o corpo biológico fomenta a sua própria falência. Pode-se afirmar, portanto, que a inclusão igualitária dos surdos no processo educacional, defronte ao enraizamento de estruturas inoperantes e de estigmas reificadores, potencializa-se progressivamente como a utopia patológica da sociedade tupiniquim. Torna-se imperativo, então, que o Governo Federal, por meio das Secretarias Municipais e Estaduais de Educação e em aliança à Iniciativa Privada - responsável pelo subsídio tecnológico - promova reformas como não só a instalação de máquinas para a confecção de materiais adaptados e o preparo psicopedagógico dos docentes a essas formas de ensino mas também a instituição de mecanismos linguísticos como as LIBRAS de forma mais abrangente no território brasileiro, objetivando assim que os deficientes disponham de estratégias comunicativas uniformes e conquistem progressivamente seu espaço na via educacional. Outrossim, é fundamental que o Ministério da Educação, junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Informação e Comunicação (MCTIC), propicie a realização de feiras culturais nas escolas - por intermédio do devido suporte financeiro da união -, as quais abordarão temas como o respeito à diversidade e a primazia da interação coletiva dos estudantes em gincanas teatrais e esportivas, por exemplo, de modo que a juventude será não apenas alvo como agente da mitigação dos estereótipos e da padronização social, levando tais campanhas ao âmbito familiar. Com isso, em razão do fim da inquestionabilidade de prerrogativas retrógradas perante aos surdos, o corpo biológico tornar-se-á harmônico e integrante.